É possível converter motor a gasolina para diesel?

Por Julio Benck

Com a recente tendência em converter motor movido a gasolina para um elétrico, e a sempre preocupante alta dos preços dos combustíveis, ressurge uma outra possibilidade: a de converter motor a gasolina para diesel.

A pergunta tem uma motivação até simples de ser compreendida, já que os motores a diesel são tão potentes e eficientes quanto os movidos a gasolina, com a vantagem de o preço do litro ser mais barato. Hoje, o preço do litro do diesel custa, aproximadamente, R$ 0,60 a menos que o da gasolina.

Sendo assim, voltamos à questão: é ou não é possível converter motor a gasolina para diesel?

Motores a diesel funcionam sem velas de ignição

A possibilidade de converter motor a gasolina para diesel existiria, caso a explosão de ambos os combustíveis fosse idêntica. O que torna inviável tal conversão é que o motor a diesel funciona em ciclo Diesel, diferentemente dos motores a gasolina e a etanol, que operam em ciclo Otto.

Mas o que significa exatamente ciclo Diesel e ciclo Otto?

De maneira geral, todo motor automotivo funciona por ciclos, em que o combustível queimado nas câmaras gera movimento para ser novamente queimado, gerando novo movimento, e assim sucessivamente.

Na prática, os motores de ambos os ciclos funcionam de formas idênticas. Eles operam seguindo quatro etapas que se completam – admissão, compressão, combustão e descarga. A diferença principal está na forma como ocorre a explosão que termina com o movimento dos pistões.

Nos motores a diesel, essa queima acontece por causa da alta temperatura gerada pela compressão do combustível na câmara. Já nos motores de ciclo Otto, esse processo acontece por causa da centelha emitida pelas velas, que faz com que a gasolina ou o etanol explodam, gerando energia.

Mas diesel e gasolina não são derivados do petróleo?

Se a origem dos combustíveis fosse o único critério para converter motor a gasolina para diesel, a questão estaria encerrada. No entanto, embora tanto diesel quanto gasolina tenham origem no petróleo, eles se diferenciam em termos de compressão exigida para sua queima dentro do motor.

Para mensurar essas taxas, é ponderada a razão entre o volume necessário dentro do cilindro para que o combustível seja comprimido até o ponto ideal de explosão.

Por exemplo, motores do ciclo Otto têm taxa de compressão aproximada de 11:1, ou seja, são necessárias 11 unidades volumétricas para chegar ao ponto em que o combustível estará pronto para a queima.

No ciclo Diesel, essa taxa praticamente dobra. Isso faz com que o diesel necessite de temperaturas maiores para ser consumido, o que o torna um combustível que gera mais energia, torque e potência.

Custo da conversão é outro empecilho

Os motores movidos a diesel exigem muito mais em termos de capacidade para funcionar, ou seja, são mais fortes e robustos que os que têm gasolina ou etanol como fonte propulsora.

As adaptações exigidas para uma hipotética conversão de um motor a gasolina para diesel também tornariam o processo extremamente caro. Seria quase o mesmo que fabricar um novo motor, já que componentes como pistões e o próprio bloco, no caso do motor a diesel, são necessariamente mais encorpados.

Repetindo, a explosão do diesel, que gera o movimento, é causada por pressão, portanto, tudo num motor a diesel é maior, se comparado com num motor do ciclo Otto, ou seja, a gasolina.

Além disso, no Brasil, o diesel é subsidiado, por isso ele só é utilizado mais amplamente em veículos de carga, de transporte coletivo ou de uso industrial e agrário.

Somos o único país do mundo em que é proibida por lei a produção e comercialização de carros de passeio movidos a diesel, embora já tramite um projeto de lei de 2015 que busca derrubar o veto federal ao diesel como combustível em veículos de passeio.