Na mitologia o Centauro é uma criatura com corpo metade homem metade cavalo. Eram seres epicamente conhecidos pela luta que travavam com os humanos. Pois, representavam a força bruta e insensata, por ser a junção da inteligência humana e o instinto animal. Você deve estar perguntando, o que tem a ver mitologia, especificamente o Centauro, com a realidade do nosso trânsito? 

A identificação do homem com um meio de transporte não é um fenômeno novo, numa época em que o carro nem sequer havia sido remotamente imaginado, a mitologia criou a figura do centauro, um ser metade humano num corpo de cavalo. Ao cavalgar era possível adquirir as mesmas características de velocidade e potência que hoje atribuímos ao carro. Pois, no fundo, existe a consciência de que essas qualidades não pertencem completamente ao homem, mas podem ser associadas com as máquinas. Surge aí a ilusão de onipotência que faz o condutor se sentir capaz de superar qualquer obstáculo. Esse olhar psicológico nos mostra a triste realidade dos massacres nas estradas, que quase sempre se devem ao excesso de à imprudência.

O ser humano que é um ser social. Vive em grupos modificando e adaptando-se de acordo com suas necessidades e aspirações. O comportamento dos indivíduos é regido por valores morais, éticos, religiosos, morais que são determinados por normas de comportamentos em todos setores da vida. E esses fatores, que se não forem levados em consideração, acabam por tornar o trânsito mais violento e propensos a acidentes quase a uma batalha constante travada pelos condutores.

Somos seres reflexos de simbolismos históricos, que se manifestam em varias formas e sempre atuais, com o trânsito não seria diferente. Ambiente que nunca estamos sozinhos. Os grandes problemas de relacionamento no transito ainda remete a situacionais como inversão de valores, falta de controle emocional, e destacamos a “surpervalorização” da maquina, o automóvel.

A forma como dirigimos pode ser vista como uma representação de nosso funcionamento psicológico, revelando não só escolhas, hábitos e crenças, muitas delas originadas na infância, mas também aspectos reprimidos ou disfarçados de nossa personalidade. Há, porém, uma explicação neurobiológica para o fascínio pelos riscos desencadeia no organismo reações neurológicas e hormonais e a elevação dos níveis de adrenalina induz a um aceleramento do sistema nervoso criando uma espécie de euforia artificial que, para alguns, pode resultar em satisfação.

Parece haver na história a simbologia de uma fascinação do ser humano pelo automóvel, sugerida pela metáfora do carro extensão do corpo, como no ser mitológico, o Centauro. No caso da nossa realidade, a fusão entre metal e carne, parte homem parte automóvel, numa realidade em que as pessoas, para escapar da “abnegação” afetiva, às vezes precisam de uma experiência estimulante levada às últimas consequências.

Buscando Freud, podemos pensar que a escolha de chegar até o limite máximo da utilidade do automóvel é, para algumas pessoas, uma forma de compensação, utilizada para amenizar traços pessoais deficitários e ostentar potência e força. Colocando em risco a própria vida e a dos outros, esses indivíduos desafiam a lei, a física e também a morte. O próprio desejo de possuir carros potentes remete ao espírito do guerreiro ancestral de introduzir medo no exército inimigo ou seus adversários. Talvez não por acaso, o potente centauro da antigüidade que estava a serviço de marte, deus da guerra, e era, violento e arrogante, tentando provar cada vez mais sua virilidade.

Fazendo essa analogia entre a mitologia e o trânsito, tentei destacar e refletir como nossa responsabilidade e respeito pelo o outro é fundamental para o bom funcionamento do trânsito. Pois, não é de hoje, que o fato, de estarmos de carro a maioria das pessoas se sentem muito mais prontas para suas próprias batalhas pessoais, vestidos de armaduras nos mantendo distantes dos “adversários”, até pela própria distância física, como se estivéssemos num tanque de guerra. Com esse comportamento, transformamos o trânsito em uma dinâmica vulnerável e de alto risco.

Por MELISA PEREIRA - Psicóloga Clínica, Organizacional e Trânsito

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