Perigo na Estrada de Rego Muleiro

Um motorista que muda de faixa sem ligar a seta; um carro que freia bruscamente devido à ação do primeiro. Nervosismo como consequência. Buzinada, discussão e xingamentos como resultado. No trânsito de Natal não é nem um pouco difícil presenciar ou, até, viver uma situação como essa. De tão comum, já virou até normal se dirigir na Capital do Estado, em um trânsito formado por mais de 300 mil veículos, buracos e ruas estreitas,  com apreensão e preparado para, a qualquer momento, reclamar ou ouvir reclamação.

Adriano AbreuCenas, como esta, são comuns nas avenidas e ruas da capital, com o motorista fazendo uma ultrapassagem em local proibido, que compromete não só a sua segurança, como também a de outras pessoasCenas, como esta, são comuns nas avenidas e ruas da capital, com o motorista fazendo uma ultrapassagem em local proibido, que compromete não só a sua segurança, como também a de outras pessoas
Contudo, se é tão comum esse nervosismo no trânsito, quais são as causas dele? Por que isso é tão normal? Para o secretário-adjunto de trânsito da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), Haroldo Maia, o problema no trânsito natalense é uma junção de fatores. Egoísmo, desrespeito à sinalização e sentimento de impunidade são os motivos para todo o estresse do trânsito. “Não é somente falta de educação. O condutor tem educação da família, tem na escola, tem na autoescola. É egoísmo mesmo, é a falta de consideração com o próximo, falta de sentimento coletivo”, apontou Haroldo Maia.

Haroldo diz que  exemplos desse egoísmo podem ser confirmados diariamente no desrespeito ao código de trânsito. “O condutor que para em uma rua onde há via livre. Ele sabe que está errado, mas acha que parando por alguns minutos não vai atrapalhar ninguém. Na verdade, está sendo egoista porque está pensando só nele e não se importando com todo o transtorno que vai causar aos outros condutores que terão que desviar o caminho”.

Muitos condutores têm total conhecimento - ou pelo menos deveriam ter - do Código de Trânsito e do que se pode ou não fazer quando está no volante. O problema é que eles simplesmente não respeitam. É nesse momento que a fiscalização dentro de Natal ainda se mostra falha. São, aproximadamente, 80 agentes de trânsito da Semob para um número de, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RN), 305 mil veículos.

Claro que não são somente o egoísmo, o sentimento de impunidade e a deficiência na fiscalização que deixam tenso o trânsito natalense. A quantidade de carros sempre crescente em todo o Estado também contribui para isso. Pelo menos é o que constata a Polícia Rodoviária Federal (PRF/RN). “A irresponsabilidade no volante e a falta de educação e respeito ao outro condutor e a normas de trânsito são claras, mas há também a grande quantidade de veículos, que deixa o trânsito lento e nervoso em todos os cantos do Estado”, afirmou o inspetor da PRF, Roberto Cabral.

Segundo ele, o espaço para o caminhão, o carro e a moto é cada vez mais estreito nas cidades, sobretudo na capital do Estado. E isso tem influência direta no nível de nervosismo do condutor. “É muito estressante gastar muitos minutos para andar poucos metros em horários de pico devido ao número de veículos”, afirmou o inspetor.   

Saída é investir no transporte de massa

O inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF/RN), Roberto Cabral, e o secretário-adjunto da Semob, Haroldo Maia, concordam: a saída para diminuir o nervosismo e o estresse do condutor é o investimento no transporte coletivo. Segundo eles, não há outra saída para a cidade que não priorizar o transporte de massa, diminuindo a utilização dos veículos individuais.

“Não é justo o ônibus disputar espaço com um automóvel. Por isso, precisamos apostar mais no transporte coletivo, criando faixas exclusivas para que eles possam transitar. Desta forma, manteriam os horários e não haveria aquela competição diária entre condutores e motoristas de ônibus”, afirmou o secretário-adjunto. Com essa “aposta”, o transporte coletivo atrairia mais usuários. “Eles veriam que é mais vantajoso usar o transporte coletivo que o individual. Consequentemente, os carros seriam menos utilizados”.

Essa, segundo Haroldo Maia, seria a saída mais viável, visto que  “não há obra viária no mundo que se sustente por muito tempo devido ao crescente número de veículos nas ruas”.Para Cabral,  “realmente, a saída é essa. O espaço fica muito curto para carros, ônibus, caminhões e motocicletas. Sem contar com os pedestres. Não é só melhorar as condições das estradas ou fazer viadutos. É preciso diminuir o número de veículos nas ruas ou, pelo menos, frear o aumento”.

Flagrantes de irregularidades no trânsito

A equipe da TRIBUNA DO NORTE não se satisfez apenas com as histórias narradas e o senso comum de que no trânsito da Grande Natal podem ser percebidos, diariamente, flagrantes de irregularidades. Esta semana, durante a reportagem, foi constatado um grande número de infrações. Desde as mais simples, como mudanças de faixas sem a seta estar ligada, até um flagra registrado em São Gonçalo do Amarante, na região metropolitana da capital, onde um homem, uma mulher e uma criança, aparentando ter, no máximo, 12 anos, dividiam, sem capacete, o banco de um ciclomotor de 50 cilindradas, a popular “cinquentinha”.

O flagrante registrado pelo repórter-fotográfico Adriano Abreu não foi o único feito na estrada que liga o centro de São Gonçalo do Amarante a localidade de Novo Santo Antônio. A alguns metros dali, outra infração grave. Ou melhor, seis, no mesmo instante.

Velocidade inferior

A primeira e talvez a causadora de todas: um caminhão que subia uma ladeira a menos de 20 km/h. Infração devido ao fato dele estar transitando a uma velocidade inferior a metade da velocidade máxima da pista (de 80 km/h). A fila formada por cinco carros atrás do caminhão logo se desfez: todos o ultrapassaram na ladeira mesmo, desconsiderando a faixa contínua – expondo uma situação de ultrapassem proibida, ou perigosa.

Itep surpreso com atropelamentos

O Instituto Técnico Científico de Polícia (Itep) em Natal já registrou em 2010 - até o dia 6 de dezembro - cem mortes por atropelamento. O número surpreende e mostra uma verdade clara: nem pedestre, nem condutor, conhece bem as leis de trânsito, ou, simplesmente, finge não conhecer. Essa verdade, inclusive, já havia sido constatada pela arquiteta Mônica Marques.

A arquiteta brasileira passou dez anos morando em Portugal e voltou para a capital potiguar recentemente. O cartão de visitas do trânsito natalense foi um quase atropelamento no bairro de Cidade Alta. Segundo ela, acostumada com o trânsito português, onde se respeita bem mais quem está a pé que, quando chega a uma faixa de pedestres, vê os carros diminuírem e pararem, foi surpreendida por um condutor “mal educado” que não diminuiu, tampouco parou ao vê-la sinalizando a uma distância considerável e começar a travessia da pista.

“Pensei que ele fosse parar, mas não parou. Pelo contrário, continuou acelerando e quase me atropela. Pior: ainda passou e me xingou no meio da rua”, conta Mônica Marques, acrescentando ser visível a diferença de educação nas ruas: “Lá, as pessoas respeitam muito mais o pedestre. Aqui, se você não corre para passar na faixa quando os carros param, eles dizem que você está ‘desfilando’”.

Apesar de já ter voltado há cerca de um mês e ter permissão para dirigir, a arquiteta preferiu ainda não se arriscar a guiar um carro no trânsito “louco” da Capital Potiguar. “Ainda não tive coragem. Vou ficar mais alguns dias andando a pé ou de carona”, contou ela.

Rotatória: lugar do nervosismo e xingamentos

Há um ponto no caminho diário de muitos condutores onde a tensão e a falta de educação afloram: ele se chama rotatória. Uma saída para diminuir a quantidade de semáforos nas ruas natalenses, a “rotunda”, como também é conhecida, pode ser considerada o local onde mais se é visto o desrespeito às normas de trânsito e a ausência de cordialidade.

Baseado nessa informação, a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE foi até uma delas. Mais precisamente, a localizada no cruzamento das ruas Campos Sales e Lima e Silva, na zona Leste de Natal. Lá, o vigilante Ronaldo Adão de Medeiros, que trabalha em uma das lojas da área, é enfático ao comentar o trânsito na rotatória: “o nervosismo aí é grande mesmo. É buzinada, xingamento, mão para fora do carro, freada. O fluxo é constante e cada um acha que pode entrar na frente do outro, aí dá nisso”.

Na rotatória, segundo o Código de Trânsito, a preferência é de quem a está contornando. Ou seja, se você é condutor e está chegando a “rotunda”, deve esperar o veículo que já está nela terminar de manobrar para poder passar. No cruzamento da Campos Sales e Lima e Silva, no entanto, não foi isso que foi visto.

Em exatos 10 minutos no local, a equipe da TN flagrou 13 condutores que desrespeitaram a preferencial. Quatro deles eram taxistas e outros quatro conduziam utilitários. Além disso, sete carros passaram por cima da faixa amarela e outros dois estavam falando no celular enquanto dirigiam.

Tanta infração e desrespeito, claro, provocaram o nervosismo dos condutores. Nesse mesmo tempo, foram registradas cinco buzinadas e uma freada brusca. Só na semana passada, houve duas batidas de carro nessa rotatória.
Matéria :Tribuna do Norte

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