"Prefeitos estadistas, existem?"

Raros, mas, sim, existem! E, melhor, há meios de identificá-los. Aliás, ter a capacidade de reconhecê-los é um exercício útil, sobretudo em um momento como o que nos encontramos agora - início de mais uma maratona para escolha de novos gestores municipais. Há uma diversidade de atributos para a definição de um estadista, mas nos restringiremos a três características que são reiteradas com muita frequência quando se tenta identificar um homem de estado.

Um primeiro atributo importante desse tipo especial de liderança é sua capacidade admirável de sobrepor os projetos de longo prazo ao imediatismo da visão de curto prazo. Prefeito estadista é o que possui a capacidade de vislumbrar o futuro, de pavimentar o caminho para sua realização, mesmo que no percurso tenha que contrariar o interesse de muitos, inclusive de alguns de seus próprios seguidores.

Sua prioridade é o projeto de futuro e não hesita em tomar decisões impopulares no curto prazo, não aceitando subordinar-se aos ganhos imediatos de suas ações, sobretudo se eles minam o projeto de longo prazo. Já tive oportunidade de ler em algum texto uma síntese lapidar do que estou tentando expressar aqui: “o estadista se preocupa com a próxima geração e o político com as próximas eleições”.

Uma segunda característica do prefeito estadista é sua peculiar capacidade de transformar sua convicção pessoal, suas ideias e propostas em convicções e ideias que passam a ser abraçadas pela maioria dos cidadãos de sua comunidade. E aqui o importante é não só o líder possuir o dom de persuadir os cidadãos e arrebanhá-los para sua causa, mas fazer isso, introjetando entusiasmo genuíno em seus seguidores o que é fator necessário para viabilizar e, por vezes, abreviar a concretização do projeto almejado.

O terceiro predicado do prefeito estadista é a capacidade de entrar em sintonia com as ideias emergentes e captar os novos paradigmas de seu tempo. Isso significa ter coragem de descartar os modelos de gestão e de desenvolvimento de cidades que funcionaram no passado, mas que caducaram nas condições do presente.

Na atualidade isso significa perceber que o motor do desenvolvimento deixa de alicerçar-se na produção industrial para assentar-se na produção do saber, na promoção do conhecimento. As boas universidades e as instituições de pesquisa fazem hoje o papel que as indústrias desempenharam no século passado.

Entre outras coisas, significa também compreender que o desenvolvimento das cidades deve conjugar o desempenho econômico desejável com a sustentabilidade do meio ambiente urbano e a promoção da qualidade de vida dos munícipes. Sem esquecer que em cidades de países com uma desoladora dívida social, como é o nosso caso, qualidade de vida significa, sobretudo, qualidade de vida para os de baixo.

A tradução concreta disso se expressa não apenas por mais e melhores empregos, educação de qualidade e saúde condizente, mas também por menos prioridade para os carros particulares e mais atenção ao transporte coletivo, menos canalização de córregos e implantação de vias marginais para uso do automóvel e mais parques lineares e ciclovias, menos descaso com o pedestre e mais praças e calçadas decentes.

Para que o leitor não imagine que prefeitos estadistas que atendam o perfil exposto acima habitam apenas o plano do imaginário e também para demonstrar o que afirmei no início deste texto, ao sustentar que de fato eles possuem existência real, recordo aqui os casos exemplares de Enrique Penãlhosa, prefeito de Bogota/Colômbia entre 1998 a 2001, Pasqual Maragall o prefeito que preparou Barcelona/Espanha para as olimpíadas de 1992 e Jaime Lerner prefeito por três vezes de Curitiba no período de 1971 a 1992.

Como resultado da tenacidade com que implementaram seus projetos de futuro, promoveram suas respectivas cidades a novos patamares de importância. Na atualidade, Bogotá, Curitiba e Barcelona são referências em inovações urbanas, reconhecidas e copiadas mundo afora. Isso porque o legado deixado por aquelas lideranças funcionaram como máquinas eficazes de promoção de qualidade de vida para suas populações.



Mário Cezar Tompes da Silva

Importante:
a) Comentários ofensivos, preconceituosos ou que incitem violência não serão aceitos;
b) Comentários que não digam respeito ao tema da postagem poderão ser excluídos;
c) O comentário não representa a opinião do blog.

A responsabilidade é do autor da mensagem.

É necessário colocar seu NOME e E-MAIL ao fazer um comentário.

Postagem Anterior Próxima Postagem

نموذج الاتصال