Quando o homem atropela a natureza

Quando o homem atropela a natureza
Quando o homem atropela a natureza















O progresso e o desenvolvimento econômico do Brasil, observados nas últimas décadas, são motivo de orgulho da sociedade brasileira. Com a ampliação do parque industrial e a criação de novos pólos geradores de riqueza, o país viveu uma transformação econômica que possibilitou a construção de estradas e infra-estrutura para o escoamento de nossas riquezas. Entretanto este progresso tem um preço elevado na fauna e flora brasileira. Aumentam os casos de florestas devastadas em nome do desenvolvimento e os primeiros a sofrerem são os animais silvestres, que são expulsos de seus habitats, sendo forçados a buscarem a sobrevivência próximo do convívio humano. Cenas antes difíceis de serem observadas hoje são comuns, animais silvestres atropelados e mortos ao longo de rodovias e estradas brasileiras. Com o desenvolvimento econômico, áreas inteiras antes consideradas habitat de inúmeros animais foram devastadas e como conseqüência muitos destes animais migraram para outras regiões ou se extinguiram frente ao progresso.
Tamanduá atropelado
Tamanduá atropelado
A construção de estradas em locais, antes considerados berço de sobrevivência de animais silvestres, trouxe outro problema grave. As trilhas utilizadas como migração e locomoção natural de pequenos, médios e grandes animais foram cortadas pelo asfalto, forçando a travessia perigosa nestes trechos. Em algumas regiões do país, o atropelamento já ultrapassou a caça como principal causa de morte não natural de animais silvestres. O problema se agrava quando as estradas encontram-se próximas de parques ou áreas de proteção ambiental. No Paraná, o Parque Nacional do Iguaçu é um exemplo deste cenário. Cortado por rodovias federais, o Parque sofre a influência humana e o resultado é o grande número de aves e animais mamíferos atropelados ao longo das estradas. O fato nos leva a um ciclo vicioso de morte. Próximas a rodovias e estradas há uma concentração abundante de plantas que servem de alimentos para animais herbívoros que, em busca de alimentação são fatalmente atropelados por carros ou caminhões. Como resultado disto, a carcaça do animal morto atrai a atenção de outros animais carnívoros que também acabam atropelados e mortos.
Família de quatis cruzando uma estrada no Rio de Janeiro
Família de quatis cruzando uma estrada no Rio de Janeiro
A identificação e recolha de animais mortos no trecho de ligação entre Foz do Iguaçu e oeste do estado do Paraná é realizada pela empresa concessionária da rodovia, a Concessionária Rodovia das Cataratas S.A., a qual disponibiliza monitoramento 24 horas por dia, através de suas equipes de inspeção. O animal recolhido é encaminhado ao IBAMA. Entre 2001 e 2002, a empresa encontrou centenas de animais mortos ao longo da estrada, em sua quase totalidade, mamíferos. O número de animais mortos preocupa o IBAMA que, desde 2005, intensificou o monitoramento da região. Outras regiões do país também apresentam quadros preocupantes de mortandade de animais silvestres nas rodovias. No Mato Grosso, apesar de não haver uma estimativa oficial também é possível verificar a existência de animais mortos ao longo das estradas. A Polícia Rodoviária Federal registrou em 2010, cerca de 108 acidentes envolvendo animais silvestres nas rodovias do Mato Grosso. Mas estes números podem ser maiores, pois de acordo com as Autoridades, muitos condutores que atropelam animais silvestres não registram o Boletim de Ocorrência. Sem o registro da ocorrência, fica difícil para as Autoridades tomarem medidas preventivas para diminuir o número de mortes de animais nas estradas. A principal orientação da polícia, para quem está viajando é de atenção redobrada, principalmente à noite: é nesse período que os animais silvestres saem da mata para se alimentarem e o risco de atropelamento aumenta.
Mas não são apenas os animais que correm risco nas estradas, o condutor também corre risco caso o animal atropelado seja de grande porte. Nestes casos, o animal pode, em uma colisão, deslizar pelo capô do veículo e quebrar o parabrisa, causando ferimentos graves no condutor ou nos passageiros. Entre os espécimes encontrados, principalmente nas rodovias que cortam o Pantanal, foram observadas cobras, tamanduás, tatus, aves e até jacarés mortos. Há também relatos de onças pintadas que foram vítimas de atropelamento. Em Goiás, a situação é semelhante. Sem uma estimativa oficial, acredita-se que centenas de animais perdem a vida anualmente na tentativa de cruzar as estradas. Entre os animais mortos podem ser encontrados tamanduás, pacas, tatus, capivaras e até grandes predadores como a onça parda. Espécimes ameaçadas de extinção são a maior preocupação dos ambientalistas. Animais como onça-pintada e lobos-guará estão na lista de ameaçados. Estes animais são encontrados mortos ao longo das estradas com uma freqüência preocupante, principalmente no tocante ao lobo-guará. Há ainda a ocorrência de atropelamentos envolvendo gambás, corujas, cachorros-do-mato e jaguatiricas.
Jacaré às margens de uma estrada
Jacaré às margens de uma estrada
Ambientalistas alertam para os efeitos desastrosos que as estradas causam na vida dos animais silvestres. Além de restringirem a passagem natural de espécies inteiras, elas acabam por migrarem para outras regiões mais afastadas ou ainda acabam mortas às margens das estradas. Os animais que não morrem no momento do atropelamento deslocam-se para interior da mata, onde morrem sem serem contabilizados. Uma das espécies mais comuns de serem encontradas atropeladas é o tamanduá, o qual ao cruzar uma estrada durante a noite é ofuscado pela luz intensa do farol dos veículos e, em sua posição natural de defesa, para no meio da pista e posiciona em pé com os braços abertos, sendo alvo fácil para os veículos que trafegam geralmente em velocidade elevada. Outro fato que também contribui para o alto índice de atropelamentos é a existência de alimentos deixados pelo homem ao longo da rodovia, o que acaba atraindo os animais. Houve casos de famílias inteiras de animais sendo atropeladas, e em outros casos, filhotinhos vagando porque a mãe foi atropelada.
Segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, do Ministério do Meio Ambiente, várias espécies da fauna do Cerrado são vítimas freqüentes de atropelamentos, tais como tamanduá-bandeira e o lobo-guará. No caso do lobo-guará estima-se que em algumas populações os atropelamentos sejam responsáveis pela morte de um terço à metade da produção anual de filhotes. Uma das estratégias para reduzir os atropelamentos, seria a criação de um grupo multidisciplinar, envolvendo biólogos, técnicos ambientais, governo e sociedade que trabalhariam na perspectiva de estabelecer um conjunto de ações, tais como o estudo da biologia das espécies atropeladas, a implantação de dispositivos e mecanismos que impeçam ou facilitem a passagem dos animais pela rodovia de maneira segura (túneis, pontes, cercas, refletores, redutores de velocidade e placas de sinalização); e a criação de um Programa de Educação Ambiental direcionado à comunidade que vive no entorno de parques e áreas de proteção ambiental. Cabe aos governos, de todas as esferas de poder, um maior empenho na coleta de informações e ações pontuais para que este cenário sombrio seja invertido. Aos motoristas que trafeguem pelas rodovias, cabe a conscientização que estes animais estão em seu habitat natural e redobrem a atenção ao trafegarem por regiões de floresta e pouco povoadas.
Tamanduá em posição de defesa
Tamanduá em posição de defesa
O progresso não pode ser desculpa para a alta mortandade de animais silvestres. Uma política ambiental que privilegie a preservação da fauna é primordial na busca do desenvolvimento sustentável e, nisto o homem tem sua parcela de responsabilidade. Os animais são, direta ou indiretamente, as maiores vítimas do homem e cabe apenas ao homem reverter esta situação. Neste caso, buscando soluções para progresso e preservação, a natureza agradece.


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