Combustíveis | "É preciso decidir o que vai mover os carros, aqui e lá fora"






Quem ainda não ouviu falar de gás de xisto, mais ou cedo ou mais tarde vai ouvir. Trata-se de extrair do subsolo gás natural impregnado em rochas ou areias betuminosas por meio de nova técnica conhecida como fratura hidráulica [em inglês usa-se o termo fracking].

Aplicado em grande escala nos Estados Unidos, significou um corte de mais de 70% no preço daquele combustível. Pode-se obter petróleo dessa forma também, porém a custo maior.
Ainda se discutem todos os riscos ambientais, já que exige quantidade enorme de água. E gás é combustível fóssil e, portanto, colabora para o aquecimento do planeta. Formar uma rede de seu abastecimento para veículos exige grandes investimentos. Entretanto, gás muito barato pode impactar o preço do petróleo. Alguns falam até em revolução energética, talvez um exagero, mas existe potencial de tirar competitividade da exploração de petróleo mais caro, em águas marítimas muito profundas, como o pré-sal brasileiro.
Essa novidade igualmente traz incertezas à política brasileira de combustíveis líquidos. Depois de congelar o preço da gasolina para combater a inflação, o governo viu o consumo e importações subirem muito pela falta de capacidade nas refinarias. Ao mesmo tempo, inviabilizou o etanol. Em 2009, a soma de consumo de etanol hidratado (para motores flex) e anidro (adicionado à gasolina) superou o de gasolina. Como a frota aumentou e houve migração para gasolina por seu preço convidativo, o biocombustível recuou, hoje, para 30%.
Mais complicado: as duas novas refinarias, em construção pela Petrobrás (Rio de Janeiro e Pernambuco), foram planejadas com foco no diesel. Então, ou se importa mais gasolina ou se estimula a produção de etanol. Durante a recente conferência internacional Ethanol Summit 2013, organizada a cada dois anos pela Unica (entidade do setor sucroenergético de São Paulo), não se constatou grande entusiasmo para investir em novas usinas. Isso apesar de a Anfavea ter anunciado, no último dia 28 de junho, que se atingiu a produção de 20 milhões de veículos com motores flex.
Falta, de fato, definir a matriz energética de combustíveis do país. O atual governo já deu sinais de pouca importância ao etanol. Agora, como precisa dele, acena com afagos, sem a firmeza necessária para que de 2013 a 2020 a produção desejada suba de 26 bilhões para 73 bilhões de litros/ano, metade do que produzirão os EUA.
LEVAR A SÉRIO
Um ponto que mereceu bastante atenção na conferência foi o etanol de segunda geração (2G). Ao aproveitar palha e bagaço da cana, a produtividade subirá até 50%, numa primeira etapa, a preço competitivo. Primeira unidade industrial será inaugurada em 2014, em Alagoas, pela GranBio. Paralelamente, se desenvolveu a chamada cana-energia, com o dobro da quantidade de fibra (celulose) e metade da sacarose (açúcar). Pode ser plantada em solos degradados, exige menos água e insumos, além do potencial de colheita três vezes maior na mesma área.
Não se trata, aqui, de qualquer revolução energética, mas de uma enorme evolução de processos e tecnologias que se estudam há mais de uma década. Do ponto de vista ambiental, o etanol 2G é superior, mas antes de tudo precisa ser levado a sério de verdade, sem políticas de oportunismo.
 Fernando Calmon

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