Redação,Via Certa
O fechamento das lojas provocada pelas medidas de prevenção à pandemia de coronavírus poderá quebrar cerca de 30% das empresas do setor de distribuição de veículos novos no País, que no total hoje operam 7,3 mil concessionárias e empregam 315 mil pessoas. O alerta é da Fenabrave, entidade que reúne os concessionários, após o primeiro mês completo de quarentena, que levou as vendas a um tombo histórico, com apenas 55,7 mi emplacamentos de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus registrados em abril, em queda de 66% sobre março e de 76% ante o mesmo mês de 2019.
Assim como a associação dos fabricantes de veículos, a Anfavea, a Fenabrave também não refez suas projeções de resultados para 2020, pois entende que “falta previsibilidade do retorno da economia à normalidade”. O presidente da entidade, Alarico Assumpção Jr., avalia que os concessionários encontram muita dificuldade para retomar os negócios, mesmo que de forma gradual, a começar pela proibição de abertura das lojas na maioria dos estados e municípios. Para evitar a falência de boa parte dos associados diante da falta de faturamento, o dirigente defende que o primeiro passo para começar a recuperar os negócios é a imediata reabertura de todas as 7,3 mil concessionárias no País, além da concessão de linhas de crédito emergenciais.
“Estamos prontos para voltar, com total responsabilidade e seguindo rigorosamente todos os protocolos de saúde e cuidados sanitários. As concessionárias não são locais de aglomerações. Além disso, garantem a mobilidade e manutenção de veículos que são primordiais”, argumenta Alarico Assumpção Júnior.
“Em estados onde a quarentena foi flexibilizada, como em Goiás, por exemplo, a queda [das vendas] foi menor, tanto na comparação com abril de 2019 (-47,8%), como no acumulado do ano (-6,7%)”, destacou o presidente da Fenabrave.
AÇÕES PELA REABERTURA DAS CONCESSIONÁRIAS
A Fenabrave conseguiu incluir no Decreto 10.329 editado pelo governo federal as concessionárias de veículos na lista de atividades essenciais, que assim como supermercados e operações de transporte poderiam continuar a operar durante a quarentena. Contudo, a inclusão foi mera proforma, pois o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que cabe aos governos estaduais e municipais legislar e estabelecer políticas de saúde e quarentena. Por isso, na prática, as lojas de veículos seguem fechadas na maioria dos estados e municípios.
A entidade e suas regionais já encaminharam ofícios as todos os estados e municípios solicitando a reabertura gradativa das concessionárias e dos Detrans. “Continuaremos trabalhando para a retomada total das nossas atividades, em todos os estados e municípios do País, sempre observando as cautelas sanitárias necessárias, de forma a possibilitar a sobrevivência do nosso setor”, afirma Assumpção Jr. Segundo a Fenabrave, até o momento Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina já permitem que as lojas de veículos operem de portas abertas.
A Fenabrave também vem solicitando aos governos estaduais o imediato retorno ao trabalho dos Detrans, que fazem o licenciamento dos veículos. “Sem emplacamentos fica complicado concretizar vendas, ainda que remotamente. Por isso pedimos que os Detrans e Cartórios voltem a operar”, afirma o presidente da entidade. Com a paralisação da maioria dos departamentos de trânsito, especialistas calculam que as vendas reais podem ser de 30% a 40% acima do volume de lacrações de placas efetivamente executadas em abril.
LINHAS DE CRÉDITO E MAIS PRAZO PARA FATURAMENTO
A Fenabrave também destacou a situação financeira precária dos concessionários no período da crise. “Sem vendas e sem liquidez, os 315 mil empregos gerados pelos concessionários estarão em risco, pois mais de 30% das empresas do setor talvez não tenham fôlego para chegar ao fim deste mês”, alerta Assumpção Jr.
A entidade informa que mantém reuniões semanais com a equipe da Sepec (Secretaria Especial da Produtividade, Emprego e Competitividade), do Ministério da Economia, para que linhas de crédito possam ser abertas rapidamente aos concessionários “com juros razoáveis, para que tenham condições de manter seus negócios até a recuperação do mercado, o que na avaliação da Fenabrave levará algum tempo, mesmo após o controle da pandemia”, diz o comunicado.
Também foi solicitado ao governo a prorrogação do pagamento de impostos, enquanto as associações de marcas que integram a Fenabrave foram orientadas a negociar com os fabricantes maiores prazos de faturamento de veículos e peças, assim como a antecipação de recebíveis. “Todos devem estar unidos para passarmos por esse difícil momento e isso só acontecerá se as redes tiverem capital de giro para operar”, afirma Assumpção Jr.