Redação,Via Certa
Por J. Pedro Corrêa

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Nas várias lives que tenho participado pela Internet, me perguntam sempre sobre como será o novo normal do trânsito brasileiro depois da pandemia. Não sendo da área médica (mesmo que fosse) e sem ter uma bola de cristal, é praticamente impossível antever com clareza mas reafirmo algo que repito há anos: não se pode prever o futuro, mas se pode influenciá-lo.

Dou uma pista:

Quarta-feira da semana passada às 17h30, no encerramento do expediente, a funcionária do escritório ao lado do edifício onde moro em Curitiba, com ajuda de uma mangueira, regava a grama quase inexistente da calçada em frente ao seu prédio. Ora, Curitiba está enfrentando um racionamento de água há várias semanas e tudo indica que até setembro teremos problemas de fornecimento. Quase não tem chovido por aqui e os reservatórios estão em ponto crítico. Tive vontade de descer e ir até a moça pedir para não desperdiçar água e ao mesmo tempo alertar seu patrão de que isto seria uma atitude cívica neste momento de penúria. Um telefonema demorado bem na hora poupou-me do incômodo.

Conto este fato para dizer porque penso que, se depender da sensibilidade de brasileiros como os meus vizinhos, o novo normal do trânsito não deve ser muito diferente do antigo normal, isto é, será complicado, para não dizer caótico. Nas ruas e nas estradas os excessos, abusos e infrações continuam. Os acidentes diminuíram porque o volume de tráfego também diminuiu.


Ouço muito que, depois do Coronavirus, “o pessoal vai aprender, vai mudar comportamento e melhorar nosso trânsito”. Será? Seria extraordinário se ocorresse, mas seria oportuno perguntar: O que tem sido feito desde o início da pandemia para domar o comportamento inconsequente do brasileiro no trânsito? Quem, efetivamente, está trabalhando em escala massiva para preparar o povo para o novo normal do trânsito? Vivemos repetindo que precisamos “nos reinventar”, para usufruir de um trânsito mais pacífico quando o natal chegar. Contudo, até onde vejo, a tal “reinvenção” não chegou ainda.


O que nos levaria a imaginar que teremos um trânsito mais ordeiro no próximo natal? A patética cena da moça despreocupada com a seca de Curitiba e regando a grama da calçada, me dá a sensação clara de que somente com uma oportuna, intensa e bem planejada campanha de conscientização sobre o novo normal do trânsito que sonhamos é que conseguiremos algum resultado.

Ok, você poderá dizer que a enxurrada de lives sobre trânsito que temos visto ultimamente pode ajudar o país a chegar a um trânsito melhor. Sim, é verdade que temos falado muito em trânsito pelos vários aplicativos disponíveis, mas não nos esqueçamos que nestes debates praticamente estamos convertendo os já convertidos quando o que realmente precisamos é envolver os ainda não convertidos. Este é o grande desafio e por enquanto não vejo ninguém encarando-o com determinação.

Quando enfatizo que não podemos prever o futuro, mas podemos influenciá-lo, chamo a atenção para a imperiosa necessidade de programas continuados de segurança no trânsito como forma de moldar o comportamento do usuário. Ultimamente constato com prazer movimentos para incrementar a cultura da segurança no País, a verdadeira raiz de todo o processo para aprimorar a lei e a ordem nesta nação. Veja que falei em cultura de segurança sem mencionar no trânsito pois quando você já tem a cultura de segurança ela vai servir para todos os momentos e lugares.

Vejo como promissores os esforços de empresas que começam a desenvolver programas de segurança como forma de diminuir as perdas no trânsito, seja pelo uso das novas tecnologias, seja pelo treinamento de motoristas ou mesmo pelo posicionamento responsável dos empresários de zelar pela segurança dos seus funcionários e de todos aqueles com quem interagem no trânsito. Estas são as que poderão ter um natal mais tranquilo em relação à segurança no trânsito.

Daí até esperar um trânsito natalino no país mais ordeiro, com menos acidentes em 2020, ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Para isto, é essencial que surja um movimento nacional, bem organizado, com capacidade de envolver lideranças regionais (Detrans, prefeituras, empresas) capazes de mobilizar esforços nos estados nesta direção. Esta iniciativa de mobilização cabe ao Governo Federal e, pelo andar da carruagem, não há indícios que isto esteja para acontecer. Movimentos pontuais, isolados, podem ocorrer e sempre são bem vindos mas não têm força de comando para catalisar atores locais de peso.


Assim, resta-nos apenas esperar que o trânsito no próximo natal possa ser melhor que os últimos, mas seria prudente avisar Papai Noel para que venha devidamente preparado para enfrentar a confusão de sempre e que torça para não entrar nas estatísticas brasileiras nada elogiáveis.
*J. Pedro Corrêa é consultor em programas de segurança no trânsito, autor de diversos livros na área e fundador do Programa Volvo de Segurança no Trânsito

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Whats do trânsito: (84) 9.9978-2593

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