O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, reforçando o tom cauteloso diante de um cenário externo mais adverso e de expectativas de inflação ainda desancoradas.
A decisão foi unânime e ocorreu após a 272ª reunião do Comitê, realizada nos dias 29 e 30 de julho. O Copom avaliou que o atual nível dos juros é compatível com o objetivo de trazer a inflação de volta à meta, mas indicou que poderá retomar o ciclo de alta se necessário.
Apesar de sinais recentes de desaceleração, a inflação segue pressionada. A projeção do Banco Central para o IPCA, índice oficial de preços, é de 4,9% em 2025 e 3,6% em 2026, acima da meta oficial de 3%. Para o primeiro trimestre de 2027, a expectativa é de inflação em 3,4%, ainda levemente acima do objetivo.
O Comitê voltou a destacar que as expectativas de inflação seguem desancoradas para todos os horizontes, o que exige uma política monetária mais restritiva por mais tempo.
No cenário doméstico, o Copom observa uma moderação no ritmo de crescimento da economia, alinhada ao esperado. O consumo e o crédito mostram sinais de desaceleração, com destaque para a redução das concessões e aumento da inadimplência.
Por outro lado, o mercado de trabalho permanece aquecido, com baixa taxa de desemprego e ganhos salariais acima da produtividade, fatores que sustentam a demanda interna e exercem pressão sobre os preços, especialmente no setor de serviços.
Pressões externas e geopolíticas
No plano internacional, o ambiente segue incerto. O Copom destacou a elevação de tarifas comerciais pelos Estados Unidos contra o Brasil, medida que traz impactos ainda incertos sobre a economia. A política fiscal norte-americana também contribui para o aumento da volatilidade nos mercados globais.
Segundo o Comitê, esse contexto exige cautela redobrada por parte de países emergentes e reforça a necessidade de uma política monetária firme.
O Copom também manifestou preocupação com o cenário fiscal brasileiro, alertando que incertezas sobre a sustentabilidade da dívida pública e o aumento de gastos direcionados podem elevar a chamada “taxa de juros neutra” da economia, comprometendo a eficácia da política monetária.
“O enfraquecimento de reformas estruturais e da disciplina fiscal pode aumentar o custo de reduzir a inflação”, afirma a ata.
Diante do quadro atual, inflação resistente, expectativas desancoradas e cenário externo volátil, o Copom optou por manter a Selic em 15% ao ano e deixou claro que não hesitará em retomar o aperto monetário caso o cenário se deteriore.
A decisão foi tomada pelos nove membros do Comitê, incluindo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Projeções de inflação do BC (cenário de referência):
Ano / Horizonte | IPCA (%) |
---|---|
2025 | 4,9 |
2026 | 3,6 |
1º trimestre de 2027 | 3,4 |