No mês dedicado à conscientização sobre o HIV e a AIDS, o “Dezembro Vermelho” chama atenção para a importância da prevenção, do combate ao estigma e do diagnóstico precoce. Para a infectologista do Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol-UFRN), da Rede Ebserh, Gisele Borba, apesar dos avanços expressivos no tratamento e no acesso aos testes, ainda há desafios importantes a serem enfrentados.
Segundo a médica, a campanha busca lembrar que o HIV pode permanecer assintomático por muitos anos, o que favorece o desconhecimento do diagnóstico e pode levar à transmissão involuntária. “A pessoa pode passar anos com o vírus sem saber. Sem o diagnóstico precoce, a infecção avança, danificando o sistema imunológico e facilitando o surgimento de doenças oportunistas, que podem ser gravíssimas. Infelizmente ainda observamos casos de pacientes que só descobrem a infecção pelo HIV depois de afetados por uma doença oportunista grave, com risco de vida”, explica Gisele Borba.
A infectologista destaca que o acesso aos testes está amplo e facilitado, disponível em unidades básicas de saúde, testes rápidos e sigilosos, e opção de testes de saliva em farmácias privadas. Ainda assim, Gisele ressalta um obstáculo que permanece: “Grande parte da população não se reconhece como potencialmente exposta à infecção. Muitas pessoas têm medo de fazer o exame ou acreditam que só determinados ‘grupos de risco’ precisam ser testados, uma ideia ultrapassada da década de 90. Qualquer relação sexual sem preservativo é um risco”, frisa a profissional.
Os avanços da terapia antirretroviral mudaram radicalmente o cenário da infecção no mundo. “Na década de 80, o diagnóstico era uma sentença de morte. Hoje, é uma infecção manejável, tratada com um ou dois comprimidos por dia, com poucos efeitos colaterais. A expectativa de vida de uma pessoa vivendo com HIV hoje é igual à da população geral não infectada”, pontua Gisele.
Um dos maiores entraves, na visão da infectologista, é o estigma. “O preconceito faz com que a pessoa não se reconheça como exposta ao vírus ou evite saber do diagnóstico. Há quem ainda associe o HIV às imagens do início da epidemia, quando não havia tratamento. E, por outro lado, alguns jovens minimizam a infecção e deixam de se proteger”, alerta.
Para Gisele Borba, todos os métodos preventivos continuam subutilizados: Preservativo é a principal proteção contra HIV e outras ISTs; PrEP (profilaxia pré-exposição) pode ser usada diariamente ou sob demanda; PEP (profilaxia pós-exposição) deve ser usada após qualquer exposição de risco, não apenas violência sexual ou acidentes ocupacionais.
“O mais importante é que exista uma conversa franca entre paciente e profissional de saúde, sem medos ou preconceitos, para escolher a melhor estratégia preventiva para cada estilo de vida”, ressalta a infectologista. Gisele defende que o diagnóstico precoce depende também de ações fora do ambiente tradicional de saúde. “Campanhas que derrubem mitos e estigmas, testagem rápida em locais de trabalho e de lazer, sigilo garantido e aconselhamento humanizado aumentam muito a chance de prevenção e de diagnóstico precoce”, acrescenta.
Mesmo com todos os avanços, a infectologista lembra que a prevenção começa com uma reflexão pessoal. “Temos uma tendência a pensar no HIV como doença do outro. Quem tem vida sexual ativa precisa trazer para si a responsabilidade da prevenção e da testagem. Reflita: você tem se prevenido? Quando foi seu último teste de HIV?”, puxa para reflexão.
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