![]() |
| Habitat Marte, no RN, recebe missão científica com foco em agricultura espacial. Foto: Embrapa |
Cinco pesquisadores passaram os dias 17 e 18 de novembro em uma experiência científica incomum no município de Caiçara do Rio do Vento, a 100 km de Natal. No local funciona o Habitat Marte, instalação da UFRN que simula condições espaciais no Semiárido potiguar. A estrutura integra a Rede Space Farming Brazil, coordenada pela Embrapa e pela Agência Espacial Brasileira (AEB).
A missão foi liderada pelo professor Júlio Rezende, da UFRN, responsável pelo projeto e um dos participantes da atividade. Os demais integrantes eram pesquisadores da Embrapa: Ítalo Guedes e Juscimar da Silva, da Embrapa Hortaliças (DF), montaram um experimento com cultivo de tomates em ambiente controlado; Renato Torres, da Embrapa Agricultura Digital (SP), testou equipamentos de monitoramento remoto; e Clarissa Castro, da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento, desenvolveu um modelo de gestão para missões em habitats análogos e avaliou o cumprimento de protocolos de rastreabilidade.
Segundo Rezende, o Habitat Marte permite testar, em condições terrestres, situações semelhantes às enfrentadas no espaço. Criadas inicialmente no Ártico em 2001, essas estações simuladas buscam reproduzir desafios psicológicos, físicos e operacionais de missões reais. A base da UFRN foi inaugurada em 2017 e, desde então, já realizou mais de 200 missões. A edição de novembro, batizada de Missão 226-Embrapa, recebeu até um patch oficial, como os usados por astronautas.
Embora não reproduzam radiação intensa nem gravidade diferenciada, instalações desse tipo simulam limitações de recursos, confinamento e condições extremas. No caso potiguar, o calor do sertão, que pode superar 40°C, contribui para o ambiente de teste.
A coordenadora da Rede Space Farming Brazil, Alessandra Favero, da Embrapa Pecuária Sudeste, afirma que esses ambientes ajudam a avaliar o comportamento de equipes e equipamentos antes de missões reais. Para Ítalo Guedes, a pesquisa também gera impacto direto para quem vive na região. O cultivo montado pela equipe funciona como vitrine tecnológica para práticas sustentáveis de produção de hortaliças em áreas semiáridas, tema reforçado após visitas a uma horta comunitária local.
Renato Torres destacou que o uso de dispositivos de internet das coisas (IoT) para automação e monitoramento pode beneficiar tanto operações espaciais quanto a agricultura terrestre, especialmente diante de eventos climáticos extremos.
Além das atividades técnicas, a missão contou ainda com uma aula de yoga ministrada por Clarissa Castro, instrutora voluntária há mais de dez anos. Segundo ela, práticas integrativas já são estudadas como ferramentas para reduzir impactos físicos e psicológicos de missões espaciais, marcadas por isolamento e condições ambientais adversas.
O trabalho da equipe deve subsidiar novas pesquisas da Rede Space Farming Brazil e contribuir tanto para avanços na agricultura espacial quanto para o desenvolvimento de tecnologias aplicáveis ao Semiárido brasileiro.
