Tragédia banalizada

Estudos recentemente divulgados pela Fundação Dom Cabral apontam a imperícia e a imprudência como principais causas de acidentes de trânsito no país. Acidentes que, segundo levantamentos da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, provocaram (números de 2008) 37 mil mortes e 180 mil internações hospitalares, figurando entre as principais causas de óbitos de jovens no país.

Uma situação de forte impacto social e econômico e que também já aparece entre os principais fatores de sobrecarga do sistema de saúde pública. O aumento da frota e conseqüente ampliação do acesso a veículos motorizados associada às más condições de treinamento dos condutores, à falta de policiamento e, como regra, a sensação de impunidade, são fatores também relevantes na composição deste quadro.

No corrente ano, até o último dia do mês de dezembro, deverão entrar em circulação no país mais de 3,5 milhões de veículos. Para 2012 as projeções são de que a frota nacional será acrescida de 3,65 milhões de veículos, a se confirmar crescimento de 4% na produção nacional.

Uma coleção de números impactantes e um dado novo: os automóveis com maior volume de vendas no país, notadamente aqueles classificados como populares, não atendem a padrões de segurança definidos por normas europeias. Sua principal fragilidade, conforme resultados de avaliações agora divulgadas, decorre da falta de air bags, as bolsas infláveis que protegem motorista e passageiros em caso de colisões.

Equipamento de segurança já largamente difundido tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, seu uso no Brasil está ainda restrito a veículos de luxo. Um problema agravado pela fragilidade das carrocerias, incapazes de absorver fortes impactos e com estruturas que podem agravar lesões nos ocupantes desses veículos. Segundo as avaliações, embora estes veículos custem bem mais que os equivalentes europeus seus padrões de segurança apresentam defasagem de pelo menos 20 anos.

Imperícia e imprudência de um lado, fragilidades estruturais de outro ajudam a compreender o quadro que situa o Brasil entre os países com mais elevados índices de mortes em acidentes de trânsito com conseqüências que poderiam ser pelo menos minimizadas. E a tudo isso deve ser acrescentado que, considerado o aumento da frota nos últimos 20 anos, estima-se que os investimentos destinados a garantir sua movimentação corresponderam a apenas 16% do que seria necessário.

Estes são os dados que explicam a banalização da verdadeira tragédia que se conta entre os mais graves problemas de saúde pública no país mas ainda assim banalizada pelo cotidiano. Dados que por si mesmos apontam o caminho das soluções que continuam sendo postergadas.

 Diário do Comércio MG

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