No mundo todo, mais de 1 milhão de pessoas morrem, por ano, em acidentes de trânsito. No Brasil, são mais de 40 mil mortes por ano, incluídas aí mais de 3 mil crianças em idade escolar. Casos de mutilação e paraplegias severas causam, ano a ano, impacto de mais de 5 bilhões de reais no orçamento público brasileiro. E esses números só crescem: em três anos, no país, o número de mortes em acidentes de trânsito aumentou 9%.
O poder público veicula campanhas de paz no trânsito. Mas esses apelos são ofuscados pelo brilho sedutor da publicidade. “A vida se transforma para melhor quando se está no comando de um [carro]. Palavra de quem tem um”, diz uma propaganda, difundindo uma
forma de transporte individual, um modo de ser e de viver focado no consumo, uma condição para a aceitação social.
O estímulo ao transporte individual ignora os graves problemas urbanos causados pelo excesso de automóveis e ofusca as lutas por transporte público de qualidade.
A ideia de que transporte é carro exclui a grande maioria de pessoas que não têm acesso a esse tipo de bem e por isso se submetem às precárias condições de circulação e mobilidade.
Comprar o quê?
A publicidade estimula a comprar veículos cada vez mais velozes, dependendo da coragem insidiosa do motorista. O Código de Trânsito Brasileiro determina que a velocidade máxima permitida é 120 km/h, mas os veículos têm potência para superar, em muito, essa marca, dando a impressão de prestígio, poder, status; vendendo vitória e sucesso. Porém, nos hospitais, nas clínicas, na história de vida de milhões de pessoas, esse traço fantasioso cobra seu preço: significa avaria, mutilação,morte.
É preciso regular!
Como?
O único órgão que se propõe a regular a publicidade no país é uma instituição privada, o Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (Conar), organizado por publicitários, para publicitários, com financiamento dos anunciantes, portanto sem a necessária neutralidade,porque tem comprometimento com o negócio da propaganda.
Ao Conar cabe garantir a credibilidade desse negócio, a propaganda, que movimenta bilhões de reais por ano. Mas e a população?
A Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) precisa discutir como a mídia e a publicidade afetam o trânsito no Brasil.
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