Drogas e seus efeitos devastadores nas estradas




A polêmica do uso do rebite, apesar de ser considerado um antigo problema na rotina diária das estradas brasileiras, toma força com o agravamento do quadro já caótico de saúde do caminhoneiro. A utilização do rebite como inibidor do sono vem dando lugar a uma droga ainda mais potente e perversa, a cocaína. Os efeitos desastrosos na saúde no caminhoneiro são mais acentuados e levam à rápida dependência química da droga. A realidade, nos dias atuais, se mostra mais obscura, preocupando autoridades policiais e agentes de saúde.


Há pouco mais de 30 anos, a droga mais utilizada por caminhoneiros que buscavam inibir os efeitos do sono, permanecendo por mais tempo na direção do veículo, era o rebite. Nos anos 2000, a cocaína, outro estimulante poderoso foi aos poucos tomando o lugar do rebite e arrebatando uma legião de dependentes que, mesmo quando não estão dirigindo, acabam por consumir a droga em virtude do vício. O álcool, apesar de legalizado, também apresenta uma legião de caminhoneiros viciados, que definham frente ao vício e colocam em risco o trânsito em ruas e estradas brasileiras.




A atividade desenvolvida por caminhoneiros que percorrem longas rotas envolve uma série de riscos à saúde. O trabalho é solitário e, em virtude da natureza da carga transportada, sentem a necessidade de perderem noites de sono por pressão de prazos para a entrega da carga. Estes fatores levam os caminhoneiros ao consumo de substâncias psicoativas para manterem-se acordados. O capital, baseado ainda na política do frete, potencializa o problema, pois o caminhoneiro, principalmente o autônomo, é obrigado a realizar viagens adicionais para complementar o ganho familiar. Os caminhoneiros são uma população predominantemente masculina, que permanecem longos períodos fora de casa e longe dos familiares. Fator que contribui para o surgimento do estresse e deterioração da qualidade de vida. E consequentemente, em rota de encontro com as drogas.





O assunto voltou à tona após um acidente envolvendo uma carreta, na Rodovia Anhanguera, interior de São Paulo, causar a morte de cinco operários que realizavam serviços de conservação na estrada. O motorista alegou inicialmente ter dormido na direção, fato que causou o descontrole do veículo. Segundo a Polícia Rodoviária, o local estava devidamente sinalizado. Na delegacia, após a realização de exame de sangue, foi encontrado traços de cocaína na corrente sanguínea. O motorista foi preso em flagrante.

A origem e os efeitos do rebite

O rebite, ou arrebite, é considerado uma anfetamina utilizada principalmente como moderadora de apetite. As Anfetaminas são drogas sintéticas, fabricadas em laboratório, cujo uso se relacionava a fins terapêuticos. As anfetaminas são estimulantes do sistema nervoso central, fazendo com que o cérebro trabalhe mais depressa e cause nas pessoas a impressão de diminuição da fadiga, perda de apetite e aumento da capacidade física e mental. Foram sintetizadas, pela primeira vez, em 1887.





Soldados aliados consomem anfetaminas para aumentar desempenho durante a Segunda Guerra


Na década de 1930, as anfetaminas foram utilizadas como descongestionantes nasais. Na Segunda Guerra Mundial, as tropas americanas utilizavam anfetaminas para combater a fadiga e revigorar as energias durante as combates contra as forças nazistas. Em virtude do caráter terapêutico, como moderadoras de apetite, as anfetaminas são facilmente encontradas em drogarias. Entretanto o uso excessivo da droga provoca um estado de grande excitação e sensação de poder.

Com a popularização da droga, encontrada facilmente e, em muitas vezes, vendidas sem prescrição médica, caminhoneiros começaram a utilizar as anfetaminas como inibidoras de sono, com objetivo de enfrentarem as altas jornadas de trabalho, permanecendo acordados por muitas horas além do limite físico tolerável. Com os efeitos das anfetaminas, o caminhoneiro fica acordado em um estado de falsa atenção. Um dos maiores problemas relacionado ao uso do rebite na direção de um veículo se refere ao efeito “rebote”. A droga age no sistema nervoso central e, quando seu efeito acaba, o organismo entra em um estado de extenuação, levando ao sono repentino.

Na década de 1970, inicia-se, em quase todo o mundo, inclusive no Brasil, o controle da comercialização das anfetaminas, que passaram a ser consideradas como drogas psicotrópicas sendo ilegal seu uso sem prescrição médica adequada. Mas mesmo com sua proibição, o rebite ainda é vendido facilmente, mesmo em farmácias e drogarias, sem qualquer controle.

As anfetaminas provocam dependência física e psíquica, podendo acarretar no organismo, com seu uso freqüente, a tolerância à droga, assim como com a sua interrupção brusca, a síndrome de abstinência. Consumidas por via oral ou injetadas, são consideradas psicotrópicos estimulantes, por induzir a um estado de grande excitação e sensação de poder, facilitando a exteriorização de impulsos agressivos e incapacidade de julgar adequadamente a realidade. O uso prolongado pode provocar forte dependência, sendo que nos casos extremos podem surgir alucinações e delírios.

As anfetaminas provocam dependência física e psíquica, podendo acarretar no organismo, com seu uso freqüente, a tolerância à droga, assim como com a sua interrupção brusca, a síndrome de abstinência. Consumidas por via oral ou injetadas, são consideradas psicotrópicos estimulantes, por induzir a um estado de grande excitação e sensação de poder, facilitando a exteriorização de impulsos agressivos e incapacidade de julgar adequadamente a realidade. O uso prolongado pode provocar forte dependência, sendo que nos casos extremos podem surgir alucinações e delírios.





Uma pesquisa preocupante publicada na grande mídia, em 2007, apontou que 61% dos caminhoneiros entrevistados fazem uso indiscriminado do rebite para cumprirem seus horários de viagem. Estima-se que em quase 50% dos sinistros envolvendo caminhões, nos períodos da madrugada e início da manhã, os caminhoneiros encontravam-se sob efeito do rebite. Em inúmeros casos, ou o caminhoneiro dormia repentinamente com o final do efeito da droga, ou atingia um estado semelhante ao transe, onde apesar de dirigir, encontrava-se alheio ao trânsito ao seu redor. Há relatos de caminhoneiros que sofreram alucinações, tais como visualizavam animais na pista ou pessoas transitando sobre a faixa de rolamento. Há um caso curioso em que um caminhoneiro parou seu veículo em posto rodoviário no interior de São Paulo e solicitou ao policial que enchesse o tanque do caminhão.

A cocaína ganha seu espaço
No início dos anos 2000, outro grande problema relacionado à busca de estimulantes que permitissem prolongar os tempos de viagem tomou força e conquistou espaço entre os caminhoneiros, principalmente os mais jovens, a cocaína. O comércio da droga nas estradas brasileiras tornou-se tão comum que caminhoneiros chegam a comprar a cocaína em postos à beira das estradas, em plena luz do dia. Os efeitos da droga no sistema nervoso central são mais devastadores e levam o usuário ao vício em pouco tempo.

A cocaína é uma droga psicotrópica estimulante. Atua aumentando o ritmo das atividades cerebrais e causando euforia e estado de excitação incomuns. Extraída das folhas da coca, arbusto nativo da América do Sul, a Cocaína, atualmente, é utilizada de diversas maneiras, sob a forma de um pó branco que pode ser aspirada ou injetada diretamente nas veias, por meio de uma seringa. Há ainda variações da droga, sob a forma de cristais, conhecido como Crack, ou pastosa, denominada de Merla, onde em ambos os casos são fumados.

Considerado um fortíssimo estimulante, a Cocaína é uma droga que causa uma imensa dependência psicológica. O usuário da droga entra em um grande estado de agitação. À medida que o efeito da droga vai passando, este estado de euforia é substituído por uma profunda depressão. Como a cocaína age no sistema nervoso central gerando grande excitação, ela causa a sensação de diminuição do sono e da fadiga permitindo que o caminhoneiro sob efeito da droga possa percorrer trajetos mais longos por um período de tempo maior. Esta sensação de atenção tem seu preço. O uso da cocaína causa profunda dependência física e química no usuário. Como a dependência é muito potente, o usuário tende a ir diminuindo qualquer outra busca de satisfação, para passar a relacionar-se exclusivamente com a droga.


Uma variante da cocaína, consumida através do ato de fumar, é o crack. Os cristais de coca, quando aquecidos liberam vapores que são inalados pelo usuário. Os efeitos do crack são mais potentes do que a cocaína, tanto estimulantes como depressores. O efeito potentíssimo do uso de Crack dura em torno de quinze minutos. Passado o efeito, a agitação dá lugar à forte depressão. A pessoa sente-se mal e com “auto-estima” baixa. Para voltar à sensação de poder e onipotência, precisa fumar uma nova pedra de Crack. Dentro deste ciclo vicioso, o usuário logo se torna dependente da droga, necessitando fumar muitas pedras em um único dia.

Os números do consumo da cocaína entre caminhoneiros são alarmantes. Estima-se que por volta de 4,5% dos caminhoneiros que rodam nas estradas brasileiras são usuários da droga. Dentro de um universo de quase 1,5 milhão de caminhões que rodam no Brasil, estima-se que cerca de 70 mil caminhoneiros são viciados em cocaína. Este batalhão de viciados coloca em risco iminente de acidente de trânsito que, na maioria das vezes, tem conseqüências funestas.



A procura pela cocaína, em substituição ao rebite, como elemento estimulante para longas jornadas de trabalho apresenta uma perigosa ilusão. Muitas vezes, a droga é apresentada como fórmula de encarar as longas jornadas, aparentando que 90 horas dirigindo pareçam curtos trajetos. Entre os efeitos mais comuns da cocaína, está a alienação do caminhoneiro com o trânsito que o cerca, perdendo as sensações e sentidos responsáveis pela reação em casos de obstáculos à frente.

Inicialmente os efeitos estimulantes da cocaína aumentam o tempo de vigília. Mas esta sensação esconde um fator importante, o corpo humano. Com o decorrer do tempo, o corpo fica cansado, o condutor perde a noção de tempo e espaço, dirigindo na contramão, batendo nos veículos que trafegam ao redor, além de empreender velocidades elevadas, imaginando estar trafegando em velocidade reduzida. Há relatos de condutores que acreditam avistar pedestres ou animais sobre a via e até mesmo imaginam estarem sendo perseguidos.

Álcool e seus efeitos
Outra droga bastante comum e por sua legalidade, perigosamente presente em qualquer estabelecimento comercial sem nenhum tipo de controle, se refere ao álcool. A bebida alcoólica é considerada a droga da socialização, bastante difundida nos meios de comunicação e com forte apelo visual. O Brasil enfrenta uma polêmica gerada pelas mortes causadas por condutores embriagados onde a sociedade procura se mobilizar para buscar dispositivos jurídicos para combater este mal, que também está presente nas estradas brasileiras. O consumo do álcool associado ao rebite objetiva manter o caminhoneiro acordado para enfrentar longas jornadas de viagens. E como as drogas anteriormente citadas, o álcool também causa dependência química e física. O agravante na utilização do álcool, associado às demais drogas, está na potencialização dos efeitos destas drogas no organismo.



O consumo de álcool pode desencadear paralisia do sistema nervoso central, piora da visão e campo de visão estreito, dificuldades de concentração e perda do senso de equilíbrio. O álcool diminui a capacidade de reação, causa depressão e pode levar o motorista a um estado de relaxamento. Causa também um estado de auto-confiança e, com isso também provocar a sensação de euforia. O álcool também prejudica a capacidade de julgamento de situações e induz o motorista a desrespeitar as normas de trânsito, sem considerar suas conseqüências. Um motorista alcoolizado não pode julgar corretamente a velocidade e a distância de seu veículo em relação aos outros.

Segundo uma pesquisa realizada pela USP, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, foram ouvidos 827 caminhoneiros que trafegavam pela Rodovia Anhanguera, durante dois meses e revelou que 66% dos caminhoneiros

Os principais motivos para o consumo excessivo de álcool se referem à associação com drogas estimulantes ou mesmo para compensar o estresse do trabalho. Por viajarem solitáriossmo para compensar o estresse do trabalho. Por viajarem solitários, em meio aos problemas enfrentados na rotina das estradas, muitos caminhoneiros encontram no álcool uma válvula de escape para aliviar o estresse. Esta prática gera todos os anos, milhares de condutores alcoólatras ou que apresentam inúmeras doenças ligadas ao alcoolismo.


Segundo uma pesquisa realizada pela USP, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, foram ouvidos 827 caminhoneiros que trafegavam pela Rodovia Anhanguera, durante dois meses e revelou que 66% dos caminhoneiros admitiram ingerir bebidas alcoólicas em excesso. A metade dos entrevistados, apesar de admitirem o consumo do álcool, não admitem que os acidentes causados por eles não tem relação com o álcool. Sempre creditam as causas de acidentes a problemas externos como panes mecânicas ou problemas na estrada.

Os principais motivos para o consumo excessivo de álcool se referem à associação com drogas estimulantes ou mesmo para compensar o estresse do trabalho. Por viajarem solitários, em meio aos problemas enfrentados na rotina das estradas, muitos caminhoneiros encontram no álcool uma válvula de escape para aliviar o estresse. Esta prática gera todos os anos, milhares de condutores alcoólatras ou que apresentam inúmeras doenças ligadas ao alcoolismo.

Um cenário sombrio
O cenário que cerca o caminhoneiro estradeiro que enfrenta longas jornadas de trabalho é sombrio. Pressionado pelo cumprimento de horários para suprirem suas necessidades, enfrentam longas horas na direção. Aliado a isto, as precárias condições de saúde relacionadas à falta de qualidade de vida, o estresse gerado pela rotina de viagens e o conseqüente consumo de drogas, contribui para a deterioração da classe, quase que marginalizada dentro do contexto da força de trabalho nacional. Estes fatores levam o caminhoneiro ao estresse e todas suas conseqüências. O estresse ocorre por meio da interação entre o corpo e a mente fragilizada pelos problemas do ambiente provocando reações hormonais que desencadeiam no organismo modificações físicas e emocionais. Estas modificações geram uma série sintomas emocionais tais como apatia, depressão, desânimo, sensação de desalento, hipersensibilidade emotiva, raiva, ira ou ansiedade.

O problema, apesar de facilmente identificado, parece não possuir uma solução imediata que contribua para o aumento da qualidade de vida dos caminhoneiros. Falta aos caminhoneiros a atenção especial dos órgãos públicos, em todas as esferas de governo, para que haja uma regulação na metodologia de ganho de capital com o trabalho do caminhoneiro. A política do ganho baseado no frete ainda é um dos principais entraves na busca de soluções mais expressivas de controle do tempo de viagem. O interesse de grandes transportadoras, que acabam influenciando políticos com mimos eleitorais, ainda representa um obstáculo a ser vencido, pois inúmeras cargas são transportadas sob a pressão do cumprimento de horários apertados, que levam os caminhoneiros ao cumprimento de jornadas exaustivas sob o perigo de demissão pela discordância em realizar a viagem determinada.

Dentro deste cenário desfavorável, resta ao caminhoneiro o desamparo político e as incertezas de um futuro sem perspectivas de melhora na sua qualidade de vida. Os problemas relacionados ao uso do rebite, da cocaína e do álcool são a tradução de um sistema de trabalho falido que faz vítimas todos os anos e representa um calo na caminhada do desenvolvimento do país. Afinal, cabe ao caminhoneiro escoar toda riqueza do Brasil, mesmo que isso custe sua própria vida e a vida de pessoas inocentes.



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