O flagelo do roubo de cargas no Brasil

A modalidade de roubo de cargas, praticada por quadrilhas especializadas neste tipo de crime nas estradas brasileiras representa um prejuízo da ordem de R$ 500 milhões de reais anuais e expõe a fragilidade do sistema de segurança publica frente às sucessivas ações criminosas. Esta modalidade de crime apresenta uma característica preocupante, a extrema organização das quadrilhas. Com planos de ações elaborados os criminosos agem em todo o país e espalham insegurança e prejuízos materiais às vítimas. O estado de São Paulo lidera o ranking de roubos com quase 50% dos crimes cometidos e a Rodovia Anhanguera é considerada a estrada mais perigosa para o transporte de cargas no país.

Segundo a Secretaria de Segurança Publica do governo do estado de São Paulo, foram cometidos 5062 roubos de cargas, até setembro de 2011, no estado, com uma média mensal de 562 roubos e prejuízos na ordem de R$ 217 milhões de reais (de janeiro a setembro de 2011). Apesar de a SSP/SP comemorar a ligeira diminuição dos roubos em relação a 2010 (7294 roubos), os índices de roubo ainda são altíssimos e não trazem alento às transportadoras, motoristas e proprietários de veículos de cargas.

Na esfera nacional, os crimes de roubo de cargas não possuem uma tabulação oficial. A desorganização e falta de comunicação entre os estados da federação possibilita a ação dos grupos em diversas regiões do país e desarticula qualquer ação policial de inteligência no combate ao crime organizado. Segundo a NTC Logística (Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística), que procurou tabular as ocorrências de crimes de roubos de cargas no país, os dados estimados sobre o crime atingem 12850 roubos e/ou furtos de cargas.

Radiografia do crime
Segundo levantamento da NTC Logística, os produtos mais procurados pelas quadrilhas que realizam roubos de cargas são:

  • Eletroeletrônico
  • Gêneros alimentícios
  • Têxteis
  • Autopeças e pneus
  • Medicamentos
  • Cigarros
  • Combustíveis
  • Produtos Químicos
  • Higiene e limpeza.

As rodovias que apresentam maior incidência de crimes cometidos por quadrilhas organizadas são:

  • Anhanguera – 16,4%
  • Dutra – 12,6%
  • Régis Bittencourt – 09,7%
  • Castelo Branco – 07,5%
  • Fernão Dias – 04,9%
  • Raposo Tavares – 03,8%
  • D. Pedro I – 03,7
  • Washigton Luis – 03,4
  • Bandeirantes – 03,2%
  • Outras rodovias – 18,4%
A liderança da Rodovia Anhanguera no ranking do roubo de cargas se deve ao aumento de ocorrências na região de Jundiaí, Campinas e Americana, área com alta concentração de empresas de computadores e de eletroeletrônicos, cargas bastante procuradas pelas quadrilhas. A região de Campinas é considerada uma das mais ricas e desenvolvidas regiões industriais do Brasil, concentrando toda riqueza em uma zona delimitada de municípios, atraindo desta forma as quadrilhas especializadas em roubos de cargas.

As quadrilhas especializadas em roubo de cargas possuem uma estrutura extremamente organizada, sub-dividida em células de ação, cada qual com sua ação pré-determinada. Uma quadrilha pode se dividir nas seguintes células:

Célula de operações – responsáveis pela ação de interceptação e captura do veículo visado. Este grupo conta com armas de grosso calibre e apoio de informantes, homens encarregados de seguir e monitorar o trajeto do veículo, desde sua saída do local de origem até o local de assalto. Também realiza a escolta e transbordo da carga roubada. Este grupo pode ser composto também de técnicos de eletrônica, responsáveis pelo desacionamento do sistema de rastreamento.
Célula de retenção – responsáveis pela retenção do motorista em cativeiro. Este grupo mantém o motorista sob custódia até que a carga esteja segura. Objetiva evitar que o motorista acione a polícia antes que o veículo e carga estejam devidamente escondidos.
Célula de apoio – geralmente formado por pessoas sem vínculo direto com a quadrilha. São eles que passam as informações cruciais ao grupo, tais como tipo de carga transportada, número de veículos de escolta, itinerário de viagem e ainda podem facilitar a ação da quadrilha. Podem ser compostos por chapas, policiais, funcionários das empresas transportadoras ou empresas de segurança e motoristas.
Célula de ação jurídica – composta por advogados ou funcionários públicos de alta patente e diretamente responsáveis pelo apoio jurídico aos integrantes do grupo.
Célula Comercial – responsável pela estocagem e comercialização dos produtos roubados. Composta por empresas de fachada ou empresários de má índole.
Além destas células, citamos também a participação do receptador, isto é, o cliente que adquire produtos de cargas roubadas. O combate a receptação pode representar o principal ponto na desestabilização das quadrilhas de roubo de cargas.

“Modus Operandi” das quadrilhas de roubo de cargas
As ações criminosas de grupos especializados em roubo de cargas são peculiares. Destacamos abaixo algumas das modalidades mais conhecidas de roubo de cargas:

Geralmente uma quadrilha possui algum tipo de informante dentro da própria empresa que repassam informações tais como horário de saída, local de entrega, itinerário, carga transportada e número de seguranças, além do tipo de mecanismo utilizado no rastreamento.
Outra modalidade de ação de quadrilhas especializadas consiste na denominada “chave na mão”, quando o próprio motorista repassa as informações de itinerário ao bando e imobiliza o veículo em um local seguro, facilitando a ação da quadrilha. Após consumado o crime, o motorista se dirige a uma delegacia para lavrar Boletim de Ocorrência com informações falsas.
Utilização de funcionários ou ex-funcionários de empresas de rastreamento que realizam o desativamento do sistema de rastreamento para facilitar a ação do bando.
Uma modalidade de ação bastante conhecida, mas que ainda gera inúmeras vítimas de roubos consiste em emparelhar o veículo ao lado do veículo de carga e, através de gestos, informar ao motorista alguma anormalidade na traseira do veículo, como por exemplo, um estepe solto. Geralmente estas quadrilhas lançam mão de veículos cujos ocupantes não levantam suspeitas. Há casos de motoristas que relataram terem avistado mulher e criança no interior do veículo, o que acabou não gerando suspeita imediata.
Outra ação praticada pelas quadrilhas é apelidada de “Homem Aranha”. Consiste em abordar a vítima escalando a parte traseira do veículo, em subidas íngremes, momento em que os veículos de carga desenvolvem velocidade baixa. Após subirem na carroceria, desengatam o sistema de ar conhecido como “mão de amigo”, forçando a imobilização imediata da carreta.
Algumas quadrilhas utilizam mulheres que pedem carona aos motoristas, durante o percurso ou nas paradas em postos de gasolina. A bordo do veículo, estas mulheres anunciam o assalto e forçam o motorista a parar o veículo para facilitar a ação dos demais criminosos.
Outra modalidade muito comum é o assalto direto ao veículo visado. Homens fortemente armados disparam contra o veículo aterrorizando o motorista e forçando sua parada imediata.
A modalidade denominada “Cavalo de Tróia” consiste em utilizar o caminhão roubado de uma empresa para adentrar suas instalações de distribuição. Homens armados permanecem no interior do veículo e, quando conseguem invadir a empresa, dominam todos os funcionários e efetuam roubos no interior das distribuidoras.
O foco de ação destas quadrilhas tem como objetivo o mínimo de violência ou confronto com a polícia. Geralmente os criminosos não causam dano físico às suas vítimas informando que o objetivo da ação é o patrimônio transportado e, se houver colaboração, isto é, nenhum tipo de reação do motorista, nada de mau ocorrerá. Há casos de quadrilhas que realizam torturas psicológicas em suas vítimas, ameaçando-as constantemente para causar terror e conseqüente falta de reação. Os veículos utilizados pelo bando não possuem qualquer restrição criminal, sendo clonados ou alugados por laranjas ou com documentos frios. Apesar de evitarem o confronto, as quadrilhas agem com armamento pesado frente a qualquer obstrução que possa ocorrer, como por exemplo, reação do motorista que tenta empreender fuga ou confronto iminente com a polícia.

A organização de algumas quadrilhas assusta pela capacidade de gerenciamento de inúmeros integrantes. Em São Paulo, um motorista vítima de roubo de carga informou aos policiais que, ao ser colocado no cativeiro, percebeu outros sete motoristas também tomados como reféns em ações semelhantes ao sofrido por ela. Esta capacidade de gerenciamento, em ação em sucessivos e simultâneos assaltos, demonstra o grau elevado de estruturação destas quadrilhas e desafia a capacidade de inteligência da polícia no combate ao crime organizado.

Nos casos em que os motoristas estejam envolvidos, a suspeita recai sobre a forma em que o motorista demonstra suas emoções. Excesso de tranqüilidade, falsas percepções de emoções e contradições nas histórias contadas levantam suspeitas e colocam o motorista no fio da meada do início de processo de investigação. Um policial experiente pode facilmente identificar os traços de inverdades nas palavras ou gestos de um motorista envolvido em roubo de carga.

Como as empresas estão se defendendo dos criminosos
Com o elevado número de ações criminosas assolando as rodovias brasileiras e causando prejuízos milionários às transportadoras e distribuidoras, as empresas de transporte se mobilizaram em busca de alternativas que inibam ou neutralizem o roubo de suas cargas. As empresas de transporte tem optado por equipar seus caminhões com rastreadores via satélite e em muitos casos, utilizam os serviços de escolta armada para inibir a ação dos criminosos. Essas alternativas tem auxiliado e a polícia a localizar e prender quadrilhas de roubos de cargas, além de inibirem os grupos criminosos com um iminente confronto com a escolta armada. Em relação ao motorista de caminhão, as empresas começaram a exigir um cadastro que garantisse a idoneidade do motorista.

Em menos de uma década o segmento de rastreamento de veículos se tornou um dos mais competitivos do País. O sistema é considerado um importante aliado das empresas e dos motoristas autônomos contra a prática de roubo de carga, além de representar um diferencial pelas empresas de seguro na hora de reduzir o valor das apólices. Atualmente, o mercado oferece uma gama de produtos para enfrentar a competitividade e conquistar clientes. A comunicação híbrida, combinação do sistema de satélite e telefonia celular, é uma das tecnologias disponíveis.

Ao motorista cabe cumprir uma série de cuidados básicos com sua segurança para minimizar a exposição aos riscos de crimes. Acompanhe abaixo algumas observações que devem ser consideradas pelo motorista, antes, durante e depois do itinerário de transporte da carga:

Antes do carregamento

  • Confira a documentação do veículo, da carga e de seus documentos pessoais.
  • Certifique-se que há combustível suficiente para a viagem
  • Cheque os itens mecânicos e de funcionamento do veículo
  • Planeje sua rota, pontos de parada e locais de risco
  • Durante o percurso

Jamais dê carona a estranhos
  • Não comente a ninguém, em suas paradas, detalhes sobre a carga transportada e seu destino
  • Se o veículo apresentar problemas mecânicos procure um lugar seguro, como uma praça de pedágio, posto de combustível ou polícia rodoviária
  • Nas paradas, nunca deixe as chaves no contato ou seu veículo sem vigilância
  • No descarregamento da carga

  • Se na houver possibilidade de entrega da carga no mesmo dia, procure um local seguro
  • Observe atentamente a movimentação de pessoas ou veículos nas imediações do local de entrega
  • Com o veículo vazio, refaça os mesmos procedimentos de segurança de seu veículo para um retorno sem contratempos
Apesar de cada empresa de rastreamento oferecer diferentes tipos de sistemas o objetivo alcançado é semelhante: disponibilizar soluções que garantam segurança à carga e ao motorista, inibindo o roubo de cargas e proporcionando ganhos reais em toda operação logística do cliente. Mas tudo isso tem um preço que, ainda que acessível ao transportador, acaba sendo repassado ao preço final do produto. E no final de toda esta história, quem acaba absorvendo parte do problema é o consumidor final, alheio ao que ocorre nas estradas brasileiras.

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