Crianças: vítimas indefesas no trânsito

As crianças representam, dentro do contexto do trânsito, o elo mais fraco e indefeso frente à epidemia de acidentes causados pela imprudência dos motoristas. Anualmente no Brasil, cerca de 2000 crianças são mortas no trânsito, vítimas de atropelamentos ou sinistros, onde se encontravam no interior do veículo, geralmente sem que utilizassem dispositivos de segurança apropriados, ou ainda sem que pudessem se defender em ruas ou estradas brasileiras. Esta triste realidade revela o lado covarde desta guerra em que vivemos no trânsito. Uma guerra sem vencedores onde o numero de mortes já se banalizou frente à recorrente realidade de vítimas neste país.
Este artigo, baseado no trabalho educacional da ONG Criança Segura, Safe Kids Worldwide, que foi colocado em prática com sucesso em cidades como Curitiba, revela o lado negro dos sinistros de trânsito, quando uma criança não possui maturidade suficiente para entender os perigos de se cruzar uma rua ou não utilizar os dispositivos de retenção adequados dentro de um veículo. Cabe ao condutor dirigir de forma adequada quando se depara com uma criança às margens de uma via, tentando prever as ações dos pequeninos e reagir prontamente quando surpreendido por uma criança cruzando a via à sua frente, ou ainda cabe ao condutor a segurança da criança por ele transportado, mantendo sempre segura ao veículo e dirigindo de forma pacífica com intuito de preservar sua vida e a vida da criança. Quando um condutor não toma estes cuidados, torna-se um protagonista traiçoeiro de um sinistro muitas vezes letal, envolvendo uma criança indefesa.

A criança como pedestre
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2003, mais de 2 mil crianças morreram vítimas de acidentes de trânsito. Nesta estatística, as crianças entre 5 e 10 anos estão entre as maiores vítimas de atropelamentos. Nesta idade as crianças estão iniciando a vida escolar, por isso apresentam uma janela de vulnerabilidade, pois não apresentam habilidades suficientes para uma simples travessia com segurança. As crianças e adolescentes acima dos 10 anos estão entre as maiores vítimas de acidentes envolvendo passageiros ou condutores, isto é, quando se encontram no interior dos veículos.
Criança atropelada, no Brasil
Outro fator importante se relaciona ao ambiente socioeconômico. As crianças que vivem em regiões onde se concentram populações de Baixa renda são mais propensas a atropelamentos, pois não reúnem conhecimento ou não são cercadas de cuidados por pais ou responsáveis. As crianças menores de 10 anos não se encontram amadurecidas o suficiente para perceber e reagir de forma segura diante do trânsito, pois não encontram condições que permitam interpretar adequadamente os riscos e as sinalizações que o trânsito oferece.
Segundo o Guia Criança Segura, a criança apresenta peculiaridades que potencializam os efeitos de um sinistro de trânsito. Seu corpo é mais frágil que dos adultos, pois ossos e músculos ainda estão em desenvolvimento, o que leva ao aumento da gravidade das lesões em casos de acidentes. Outro agravante é a baixa estatura, que atua como um complicador porque impede a percepção visual do motorista, assim como da criança em relação ao veículo. O impacto de veículo contra o corpo de uma criança atinge regiões da cabeça, pélvis e abdômen gerando lesões gravíssimas ou fatais.
Crianças até 12 anos apresentam habilidades de percepção, cognição, noção espacial e temporal ainda em desenvolvimento, dificultando o discernimento preciso sobre distancia, velocidade e posição dos veículos em circulação. Encontram dificuldades para calcular o tempo de travessia e para diferenciar sons diversos como buzina, freada de pneus, etc. Há casos corriqueiros em que não existe lugares para se brincar, onde as crianças acabavam por utilizarem vias próximas de suas casas, expondo-se mais constantemente ao risco de atropelamentos.

Dinâmica do atropelamento
No atropelamento, em cerca de 80% dos casos, o pedestre é atingido pela dianteira do veículo. A idéia de que, em um atropelamento, o veículo passa por cima do pedestre ocorre geralmente em casos envolvendo ônibus e caminhões. A dinâmica mais comum do atropelamento consiste no pedestre, que após o choque com o veículo, rola sobre o capô e pára-brisas do que veículo que o atinge. A parte do corpo que apresenta maior probabilidade de lesões graves se situa entre as pernas e a região pélvica, e isto ocorre no momento do impacto com o veículo.
Campanha de prevenção de atropelamentos, Austrália
A probabilidade de lesões fatais é maior nos choques frontais do que nos laterais. Em velocidades superiores a 60 Km/h, o pedestre, geralmente, rola sobre a dianteira do veículo, com o corpo se dobrando e as pernas podendo atingir o teto do veículo. Em decorrência da força aplicada, o corpo do pedestre ganha velocidade e esse movimento se acelera de acordo com a velocidade do veículo, onde o corpo do pedestre mantém a velocidade, mesmo com a frenagem do veículo. A velocidade do impacto determina o local em que ocorre o choque do veículo com a cabeça do pedestre.
Em crianças com idade abaixo de cinco anos observa-se maior grau de lesões na cabeça e no pescoço, e a explicação mais provável para tais lesões assim ocorrerem é atribuída à altura da criança em relação aos pára-choques dos veículos envolvidos. A criança é atingida pelo pára-choque na parte mais alta dos membros inferiores e no tronco, que colide com a dianteira do capô.
Onde ocorrem os atropelamentos
Segundo dados obtidos pela CRIANÇA SEGURA Safe Kids Brasil, extraído do Guia Criança Segura, pesquisas de comportamento e meio ambiente realizadas com os pais dos alunos e nas escolas apontam que acidentes ocorrem em razão não apenas dos condutores de veículos trafegarem nas vias municipais, em torno das escolas, em marcha bem mais acelerada do que velocidade permitida no local, como, também, da não disponibilidade de calçadas e de mecanismos de controle de tráfego, tais como semáforos e lombadas eletrônicas adequadamente instaladas.
Mais de 70% das mortes e mais de 50% dos acidentes de trânsito ocorrem em razão não apenas de os locais apresentarem-se desprovidos de mecanismos indispensáveis para a segurança no trânsito, presença de semáforos, faixas de pedestres ou de outro tipo de sinalização, como também porque, ou as crianças atravessam no meio da quadra, ou tentam desafiar as convenções e preferem transitar pelas ruas em pontos que não comportam sinalização. Os dados oficiais e disponíveis não incluem detalhes sobre a presença de calçadas ou de áreas de lazer nos locais em que se registram atropelamentos.
A maior incidência de atropelamentos, segundo o Guia Criança Segura,  ocorre no período da tarde, entre segunda e sexta-feira. Os fatores de risco que contribuem para o atropelamento ocorrer são alto volume de tráfego,  limite de velocidade da via acima de 40 km/h, crianças transitando nas ruas, calçadas precárias ou inadequadas, luminosidade e tempo chuvoso.

Como melhorar a segurança das crianças
Cerca de 90% dos acidentes poderiam ser evitados caso se adotassem medidas simples, baseadas na conscientização e mudança de comportamento dos pais e dos responsáveis no cuidado com as crianças. A segurança das crianças será obtida quando adotarem-se estratégias para promover a conscientização das pessoas sobre a segurança no trânsito e, se medidas como educação, cumprimento da lei e modificação do ambiente em níveis individuais e coletivos forem trabalhados com seriedade.
Criança vítima de acidente, na Líbia
A supervisão realizada por um adulto, ainda prevalece como a principal solução para a travessia das crianças pelas ruas. Isto é particularmente importante porque as idades de maior risco coincidem com o período em que os pais superestimam a capacidade de seus filhos para travessia de uma via de trânsito.
A ONG Criança Segura elaborou uma série de dicas, voltadas aos pedestres, tanto para adultos como crianças, que objetivam a prevenção de atropelamentos de crianças. Acompanhe abaixo o que a organização recomenda aos pedestres:
  • Crianças menores de 10 anos devem atravessar a rua acompanhadas de um adulto.
  • Na faixa de travessia de pedestres, olhe para os dois lados e em seguida atravesse a rua em linha reta.
  • Procure o lugar mais seguro para atravessar a rua, como por exemplo, longe dos cruzamentos ou em uma passarela.
  • Ao atravessar a rua, procure olhar para o motorista e ter a certeza de que ele também está vendo você.
  • Brinque em áreas seguras como parques, quintais e jardins.
  • Ao desembarcar do ônibus, espere que o veículo pare totalmente e aguarde que ele se afaste, para atravessar a rua
  • Nunca atravesse a rua por trás de ônibus, carros, árvores e postes, pois os motoristas dos veículos podem não ver você.
  • Sempre que estiver com um grupo de pessoas, caminhe em fila única.
  • Caminhe sempre na calçada e o mais distante possível da rua. Em estradas ou vias sem calçadas, siga no sentido contrário aos veículos.
  • Em dias chuvosos e à noite, use roupas claras para que os motoristas vejam você.
Aos condutores a principal atitude reside no fato de dirigirem com atenção e segurança ao se aproximarem de regiões povoadas, estabelecimentos comerciais e áreas escolares. Redobrar a atenção principalmente próximo à escolas, onde a concentração de crianças é maior. Infelizmente, este fato não ocorre com a freqüência necessária, colocando os motoristas, invariavelmente, nas condições de vilões em sinistros de atropelamentos de pedestres.
Crianças transportadas em veículos devem sempre estar devidamente amarradas aos dispositivos de retenção regulamentados. O condutor é diretamente responsável pela criança que transporta, desta forma, é imprescindível ao condutor zelar pela sua segurança adotando uma direção defensiva e pacífica. A criança não possui capacidade de se defender sozinha, cabendo ao motorista adotar cautela ao dirigir e prever sempre o que pode ocorrer em seu trajeto.

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