O relatório global da ONU divulgado em 2013 apresenta dados oficiais de 2010 em que registra que somos donos de uma frota de 43.632.236 carros e veículos leves de 4 rodas; 16.508.854 motorizados de 2 e 3 rodas; 3.954.202 caminhões pesados e 722.682 ônibus. Considerando que tais dados tem 4 anos de atraso e do jeito que compra-se e vende-se carros no Brasil, sem dúvida que a frota é muito maior.
No Brasil morrem em acidentes de trânsito 22 pessoas a cada 100 mil habitantes (a média mundial é 18 a cada 100 mil habitantes) e nosso compromisso até 2020 é de reduzir a acidentalidade e os óbitos a 11 mortes a cada 100 mil habitantes. Talvez se não morresse mais ninguém no trânsito brasileiro até 2020, quem sabe....
Por outro lado, se fizermos a conta “pelo baixo” considerando 40 mil mortes/ano em acidentes no Brasil, chegaremos a 2020 com 300 mil mortos a mais sem conseguir atingir a meta.
E se não conseguirmos cumprir com o objetivo assumido perante a ONU e o mundo de reduzir a acidentalidade para 11 a cada 100 mil habitantes, o que acontecerá ao Brasil? Sofreremos restrições de qualquer ordem? Perderemos o direito a concessão de empréstimos ou coisa que o valha?
A resposta é não! A punição será moral mesmo diante da vergonha e da fragilidade de não conseguirmos controlar e frear tantas mortes no trânsito. Isso porque a meta aceita para a Década é um pacto pela redução da acidentalidade e não um compromisso formal assinado pelo Estado brasileiro.
Considerando ainda que grande parte do dinheiro arrecadado com multas de trânsito e que vai para o FUNSET no país fica “retido” para reserva de contingência para saldar outros compromissos do governo em vez de ser aplicado na totalidade em ações pontuais em educação e prevenção de acidentes, o cenário não nos dá um bom prognóstico.
E não me venham falar de pessimismo porque sou uma das pessoas mais otimistas em meio a esse cenário de guerra. Neste exato momento estou mobilizada e em luta com a sociedade organizada de Blumenau para realizar 3 marcos históricos em ações preventivas e educativas para a segurança das pessoas no trânsito e que envolvem, pela primeira vez nos 163 anos de Blumenau, toda a população da cidade de municípios vizinhos.
Falta dinheiro, muitas vezes falta apoio, enfrentamos um caminhão de dificuldades por dia, mas não desistimos de fazer a nossa parte, muitas vezes nos esfalfando para conseguir o pouco que temos para fazermos a nossa parte.
É fato que sozinhos não vamos mudar o cenário e tampouco baixar esses números. Mas, se cada um fizer a sua parte, se começarmos a pensar e agir coletivamente, é certo que esse cenário muda!
Começando pelo governo federal, lá em cima: deixando de reter dinheiro importante e exclusivo para colocarmos em prática o Capítulo VI do CTB em apoio a outras ações para um trânsito seguro; parando de baixar impostos para estimular a venda de carros e beneficiar a indústria automobilística, por exemplo.
Quem sabe se o governo federal parasse com a demagogia das propagandas que associam comprar carro a ideal de felicidade e melhoria da qualidade de vida e começasse a investir na qualidade do transporte coletivo e meios alternativos de transporte as coisas começassem a andar. Se começasse a investir na construção e conservação da malha viária do país, certamente teríamos menos acidentes cujo fator incidente fosse a via.
Porque no Brasil quando precisam arrumar dinheiro para algo que julgam importante, curiosamente aparecem as oportunidades, as leis, os programas disso e daquilo que possibilitam alcançar esses objetivos. Ou será que seremos obrigados a acreditar no inacreditável de que a acidentalidade, as mortes e o exército de feridos e mutilados também dão algum lucro para alguns?
Ou a sociedade brasileira acorda e começa a fazer a sua parte agora mesmo para honrar e proteger a vida das pessoas no trânsito ou continuaremos a assinar pactos e tratados e convenções e tantos outros papéis e a continuar passando vergonha diante do próprio país e do mundo.
Eu estou fazendo a minha parte e não me agrada nada morrer no trânsito como mártir, juntamente com outros abnegados que tem como principal motivo para abrir os olhos cada manhã a preservação da vida das pessoas no trânsito. Acorda, meu país!
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