Para expedir a Recomendação conjunta, foram considerados diversos aspectos, entre eles, a investigação conduzida pelo MPT na Paraíba, que começou em dezembro passado após denúncia que chegou à Instituição.
“Considerando a propositura da Ação Civil Pública em face de Hytalo José Santos da Silva, responsável pelo canal que divulga a loteria ‘Fartura de Prêmios’ (LOTEP Nº 00205/2024 LTP-PRC-2024/01023), por indícios de submissão de adolescentes a práticas de ‘adultização’ e exposição midiática com conotação sexual para obtenção de lucro; considerando que a utilização da imagem de crianças e adolescentes para a geração de receita configura exploração de trabalho infantil, bem como se alinha a situações de risco já reconhecidas que correlacionam a superexposição digital a riscos de aliciamento e danos psicológicos, (...) resolvem expedir a recomendação à Diretoria da Lotep - Loteria do Estado da Paraíba, para que, no prazo de 48 horas, proceda à suspensão imediata e cautelar da autorização nº 00205/2024 concedida à empresa ‘farturadepremios’”, diz a Recomendação.
“É importante destacar que a exploração do trabalho de crianças e adolescentes também é uma forma de ‘adultização’, sendo a exploração sexual umas das piores formas de trabalho infantil, conforme a Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho”, ressaltou o procurador do Trabalho Flávio Henrique Freitas Evangelista Gondim, que assina a Recomendação juntamente com a promotora de Justiça de Bayeux, Ana Maria França; os promotores de Justiça Octavio Paulo Neto e Dennys Carneiro Santos e pelo delegado geral da Polícia Civil da Paraíba, André Luis Rabelo.
De acordo com a Recomendação, a Lotep – que é responsável pela concessão da licença para a empresa operar – deve manter a suspensão em vigor até a resolução judicial da Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público, “ou até que se demonstre a completa cessação das condutas irregulares e a efetiva proteção dos direitos de crianças e adolescentes envolvidos”. Segundo o documento, o não acatamento da Recomendação pode acarretar aos responsáveis medidas legais cabíveis, incluindo ajuizamento de Ação Civil Pública para a implementação da medida e até ações de natureza criminal.
Investigação do MPT
“O MPT atua, de forma permanente, no combate à exploração do trabalho infantil e outras violações. Por causa da complexidade do caso Hytalo Santos e por envolver crianças e adolescentes, tudo estava sob sigilo. Mais de 15 pessoas foram ouvidas no inquérito, temos mais de 50 vídeos no processo. Temos áudios, gravações, um material vasto que demonstra a gravidade das inúmeras violações trabalhistas e aos direitos humanos.
O foco da investigação é a apuração da possível ocorrência de pelo menos três irregularidades trabalhistas: o ‘trabalho infantil digital’, com a gravação intensa de vídeos diários direcionados pelo Hytalo; a ‘exploração sexual’ e até ‘tráfico de pessoas’, por indícios de privação de liberdade e ameaças às crianças”, afirmou o procurador do Trabalho Flávio Gondim.
“Diante de tantos riscos da exploração infantil e da superexposição de crianças e adolescentes no ambiente digital, é importante cada vez mais reforçar a Rede de Proteção à Infância e à Adolescência, da qual o MPT faz parte. E termos sempre o apoio da sociedade em denunciar”, concluiu Gondim.