Pesquisa liderada por brasileiro revela três anéis distintos e um disco em transformação em torno do centauro Chiron
Uma equipe internacional de astrônomos, liderada pelo pesquisador Chrystian Luciano Pereira, pós-doutorando no Observatório Nacional (ON/MCTI), observou pela primeira vez a evolução de um sistema de anéis ao redor de um pequeno corpo do Sistema Solar.
Usando a técnica de ocultação estelar, os cientistas descobriram que o centauro (2060) Chiron, também conhecido como Quíron, possui três anéis distintos inseridos em um disco de material mais amplo — um sistema dinâmico e em constante mudança.
O estudo, publicado na revista científica The Astrophysical Journal Letters, mostra que as estruturas ao redor de Chiron não são permanentes e se transformaram significativamente nos últimos anos, indicando que o sistema está em plena evolução.
“Estamos vendo o resultado de um evento recente. O material ejetado por Chiron parece estar gradualmente se assentando no plano equatorial, formando os anéis que vemos hoje. É como observar uma etapa intermediária na formação de um sistema de anéis”, explicou o pesquisador Chrystian Pereira.
Sistema em transformação
A análise revelou três anéis densos a 273 km, 325 km e 438 km do centro de Chiron, além de um disco difuso que se estende por centenas de quilômetros e uma estrutura mais tênue a cerca de 1.400 km.
Comparando dados de 2023 com observações anteriores, os cientistas concluíram que o disco de poeira e gás pode ter se formado após uma ejeção de material ocorrida em 2021.
Chiron, com cerca de 200 km de diâmetro, orbita o Sol entre Saturno e Urano e pertence à classe dos centauros, objetos gelados que exibem características de asteroides e cometas.
Descoberta colaborativa
A observação foi possível graças a uma campanha internacional coordenada pelo professor Felipe Ribas, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e do ON. A operação envolveu 31 observatórios na América do Sul, com dados cruciais obtidos no Observatório do Pico dos Dias (LNA/MCTI), em Minas Gerais.
O trabalho faz parte do projeto Lucky Star, liderado pelo astrônomo Bruno Sicardy, do Observatório de Paris, e contou com a colaboração de pesquisadores brasileiros da UFRJ, UNESP, UTFPR, LIneA e do Observatório Nacional.
Avanço científico
Os resultados confirmam Chiron como o quarto pequeno corpo do Sistema Solar com anéis — depois de Chariklo (2014), Haumea (2017) e Quaoar (2023).
A descoberta abre uma nova janela para o estudo da formação e evolução dessas estruturas, antes consideradas exclusivas de planetas gigantes como Júpiter e Saturno.
O artigo é um desdobramento da tese de doutorado de Chrystian Pereira, desenvolvida no ON e premiada com menção honrosa na XLVIII Reunião da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), realizada em Caxambu (MG).
*Observatório Nacional