Transporte público X espaço público


“O Brasil vive as consequências de uma sociedade individualista, escravocrata, que não nasceu igualitária e quando a gente começa a ensaiar a igualdade, cria-se um problema”, essa é a ideia do antropólogo Roberto DaMatta para explicar o caos crônico do trânsito brasileiro. 
 
Para DaMatta, a cultura do automóvel foi inserida na sociedade brasileira, sem antes haver uma politização de como os cidadãos deveriam se comportar e respeitar o espaço público. “A gente tem ruas asfaltadas aos modelos americanos, sistema de sinalização europeu, carros alemães velozes e imponentes, mas os motoristas são brasileiros”. 
 
Dentro da visão de DaMatta, essa sociedade individualista está refletida também nos investimentos governamentais no transporte público. As precárias linhas urbanas de trens e as poucas malhas metroviárias brasileiras, demonstram a falta de incentivo em um transporte público de massa, que permitiria que todos os cidadãos, pobres e ricos, tivessem o direito de ir e vir. “Nós temos uma preferência absolutamente descomunal pelo transporte individual. Assim, acabamos com o transporte coletivo. É impressionante como destruímos a nossa malha ferroviária, que demoramos décadas para construir. E a gente não revive isso. Não temos discussão, capacidade para reconstruir isso”, afirma o antropólogo. 
 
Para se ter uma ideia, de acordo com o levantamento de junho de 2011 realizado pelo Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), a cidade de São Paulo tem hoje sete milhões de veículos nas ruas, para 11 milhões de habitantes. Em contra partida, a malha do Metrô de São Paulo, nascido na década de 1970, tem apenas 70,6 km de extensão. 
 
A solução para o fim do caos, segundo Roberto DaMatta, é a “humanização” do trânsito brasileiro, onde todos os cidadãos têm a noção exata que devem respeitar o espaço dos outros. Além disso, é necessário que os governantes planejem uma nova infraestrutura para reorganizar o transporte público, adequando-o a nova demanda/necessidade da população e as novas exigências ambientais, que a cultura do automóvel nos proporcionou.
 
Revista Ferroviária

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