Leandrinho carregava, firmemente em suas mãos, um carretel de linha, papéis de seda coloridos e um pequeno pote de cola, itens que acabara de comprar na venda de Seu João, um humilde mercadinho que abastecia a vila onde o garoto morava. A vila encontrava-se na periferia da cidade, distante da urbanização, mas próxima da pobreza e do descaso do poder publico. Feliz da vida, Leandrinho, um menino com seus tenros 9 anos de idade, rumava para sua casa e ainda custava a acreditar que seu pai, um catador de papelão, daria um dinheirinho para a compra dos objetos que tanto o garoto sonhava. Lembrava em como seu pai o repreendia por correr atrás de pipas, sempre na busca da linha e do brinquedo perdido que insistia em cair lentamente, livre nos céus, para qualquer lugar que o vento carregasse. Por falta de dinheiro, Leandrinho se contentava em capturar uma pipa sem dono nos céus e, nó após nó, juntar pedaços de linha para que pudesse empinar seu brinquedo. Vê-lo pairar sobre sua cabeça, como em uma dança harmoniosa e ainda realizar disputas com os outros meninos da vila pelo controle do céu, como em combates de heróis de desenho animado, fazia Leandrinho embarcar sua imaginação em sonhos e arrancar de seu rosto de criança um sorriso de prazer e alegria.
O pai de Leandrinho, temendo que seu filho pudesse se machucar, distraído na cata de pipas no céu, resolveu presentear o filho com o dinheiro necessário para a compra da linha. Acreditava que desta forma, o garoto pudesse ficar mais próximo de casa e longe do perigo encontrado na travessia da rodovia que cortava o bairro. Seu pai sabia que a estrada era movimentada, onde os veículos transitavam em alta velocidade, representando grave risco à vida de todos que tentavam cruzá-la. Sempre que o pai de Leandrinho retornava para a casa, observava aquelas crianças invadindo uma área perigosa, correndo o risco de serem atropeladas. Por esta razão, resolveu em pagar o material para a montagem do brinquedo, seguro que desta forma seu filho estaria longe da estrada e do iminente perigo.
A felicidade de Leandinho estava esboçada no grande sorriso em seu rosto, pois nunca havia montando uma pipa em casa, ainda mais com dinheiro próprio. Ao chegar ao quintal, mal se conteve e já iniciou sua montagem, utilizando um pouco de cola e as varetas de bambu que havia preparado antes de comprar os itens na venda. Leandrinho parecia falar com sua pipa, que aos poucos tomava forma, sussurrando frases que para um adulto nada representavam, mas para aquele menino, eram frases de boas vindas ao brinquedo que surgia. Comprou três folhas de papel de seda nas cores preta, vermelha e branca que representavam uma homenagem ao seu time de coração, o São Paulo. Seus olhinhos vidrados no brinquedo denunciavam o amor que o menino empenhava em sua montagem. Leandrinho parecia incorporar sua primeira pipa, seu coração parecia se fundir e sentia ali partilhar a liberdade que o brinquedo oferecia, em seu primeiro vôo pelo céu. A felicidade parecia transbordar em seu coração ao ver o resultado de seu empenho. Uma linda pipa, com as cores na horizontal, em vermelho, branco e preto.
Em poucos instantes o menino saía em disparada pela rua da vila, contente em desfilar seu brinquedo aos demais amiguinhos. Percebia a inveja pura de uma criança nos olhinhos de seus pequenos companheiros de brincadeiras. Como sua pipa, ele parecia voar inerte sobre o céu azul, em sintonia com seu brinquedo. Fechando seus olhos, ele e seu brinquedo eram apenas um, sentindo a leve brisa, que o alavancava aos céus. Feliz da vida, ele iniciou o empinar de sua pipa, ignorando que sua linha não possuía cerol e, desta forma, não percebendo que os outros meninos se enchiam de vontade de laçar seu brinquedo. Esqueceu-se que entre seus amigos a disputa pelo céu era uma constante, onde desta vez ele não estava mais na posição de buscar uma pipa perdida.
O pai de Leandrinho, temendo que seu filho pudesse se machucar, distraído na cata de pipas no céu, resolveu presentear o filho com o dinheiro necessário para a compra da linha. Acreditava que desta forma, o garoto pudesse ficar mais próximo de casa e longe do perigo encontrado na travessia da rodovia que cortava o bairro. Seu pai sabia que a estrada era movimentada, onde os veículos transitavam em alta velocidade, representando grave risco à vida de todos que tentavam cruzá-la. Sempre que o pai de Leandrinho retornava para a casa, observava aquelas crianças invadindo uma área perigosa, correndo o risco de serem atropeladas. Por esta razão, resolveu em pagar o material para a montagem do brinquedo, seguro que desta forma seu filho estaria longe da estrada e do iminente perigo.
A felicidade de Leandinho estava esboçada no grande sorriso em seu rosto, pois nunca havia montando uma pipa em casa, ainda mais com dinheiro próprio. Ao chegar ao quintal, mal se conteve e já iniciou sua montagem, utilizando um pouco de cola e as varetas de bambu que havia preparado antes de comprar os itens na venda. Leandrinho parecia falar com sua pipa, que aos poucos tomava forma, sussurrando frases que para um adulto nada representavam, mas para aquele menino, eram frases de boas vindas ao brinquedo que surgia. Comprou três folhas de papel de seda nas cores preta, vermelha e branca que representavam uma homenagem ao seu time de coração, o São Paulo. Seus olhinhos vidrados no brinquedo denunciavam o amor que o menino empenhava em sua montagem. Leandrinho parecia incorporar sua primeira pipa, seu coração parecia se fundir e sentia ali partilhar a liberdade que o brinquedo oferecia, em seu primeiro vôo pelo céu. A felicidade parecia transbordar em seu coração ao ver o resultado de seu empenho. Uma linda pipa, com as cores na horizontal, em vermelho, branco e preto.
Em poucos instantes o menino saía em disparada pela rua da vila, contente em desfilar seu brinquedo aos demais amiguinhos. Percebia a inveja pura de uma criança nos olhinhos de seus pequenos companheiros de brincadeiras. Como sua pipa, ele parecia voar inerte sobre o céu azul, em sintonia com seu brinquedo. Fechando seus olhos, ele e seu brinquedo eram apenas um, sentindo a leve brisa, que o alavancava aos céus. Feliz da vida, ele iniciou o empinar de sua pipa, ignorando que sua linha não possuía cerol e, desta forma, não percebendo que os outros meninos se enchiam de vontade de laçar seu brinquedo. Esqueceu-se que entre seus amigos a disputa pelo céu era uma constante, onde desta vez ele não estava mais na posição de buscar uma pipa perdida.
Logo Leandrinho percebeu sua pipa ao longe, em uma distancia que ele jamais havia visto, em virtude da quantidade de linha que o menino desprendia. A realidade começou a bater em sua alma. Avistou ao seu lado dezenas de garotos empinando suas pipas. Voltou-se para o céu e percebeu a enrascada que havia entrado. Diversos garotos derivavam suas pipas para o lado de seu brinquedo. Desesperado, Leandrinho iniciou a recolha de sua linha, na esperança de salvar seu brinquedo de seda e bambu do ímpeto dos demais meninos. Começou enrolando rapidamente a linha, mas como a pipa encontrava-se bastante ao alto, começou a puxar vigorosamente, nem percebendo a linha se embaraçando ao solo.
Observando o céu, o menino percebeu que o encontro com outras pipas seria iminente. Avistou uma grande pipa preta logo acima da sua, a qual em poucos instantes empreendeu um mergulho direto em sua pipa. Leandrinho nada podia fazer, pois sem o cortante na linha, era alvo fácil. Um friozinho tomou conta de sua barriga. Sentiu a linha da pipa adversária tocando em sua linha. Com os olhos vidrados no céu percebeu que sua linha fora instantaneamente cortada. Imediata e instintivamente, iniciou uma corrida frenética em busca de seu brinquedo valioso.
Com os olhos vidrados no céu, Leandrinho corria desesperadamente na esperança de reaver sua pipa. Sentia como se tivesse perdido parte de si. Nada ao seu redor importava, tampouco a grande quantidade de garotos que corriam ao seu lado, o que importava apenas era aquele brinquedo que caía livremente, ao movimento do vento, em algum lugar do horizonte. E lá foi Leandrinho, ignorando tudo. Não percebendo que adentrava a rodovia. Não percebendo que os demais garotos, ao se aproximarem da rodovia cessaram a caça pela pipa perdida. E lá foi Leandrinho, em busca do seu primeiro e legítimo brinquedo, uma pipa feita de bambu, cola, linha e seda. Materiais singelos mas que representavam inestimável valor em seu coraçãozinho de criança.
De repente todos que estavam próximo a rodovia ouviram o som estridente de rodas derrapando e um estrondo assustador. As demais crianças se aglomeraram as margens da estrada. Podiam ver um automóvel capotado e o trânsito parando subitamente ao longo da estrada. Ao chegarem mais perto, viram um corpo de criança estirado no asfalto. Era o corpo de Leandrinho. Todos puderam também perceber que ele segurava, em uma de suas mãos, sua tão querida pipa. Apesar da violência do impacto que custou a vida do menino, seu brinquedo parecia estar intacto, com sua enorme rabiola embaraçada.
Em busca de seu singelo brinquedo, o garoto não percebeu a morte se aproximando. Acabou correndo em direção ao seu destino. Um destino atroz, presente em todos os cantos de nosso país, em todas as localidades pobres que margeiam nossas estradas. Crianças empinam seus sonhos em suas pipas, brincam e imaginam seus mundos com os olhares voltados para o céu, alheios à vista da morte presente no estéril asfalto das estradas. Desta vez a morte carregou Leandrinho, mas poderiam ser Pedrinhos, Marcelos ou Paulinhos. Poderia ser um conhecido, um amigo ou um parente próximo. Uma realidade que custa a acabar no Brasil. Uma realidade que ceifa vidas de crianças inocentes. E Leandrinho estava morto, seu corpo estirado ao chão, mas em seu semblante, um leve sorriso de satisfação que apontava o prazer de recuperar seu brinquedo. E foi assim que ocorreu. Leandrinho abraçou sua pipa. E a morte abraçou Leandrinho.
Observando o céu, o menino percebeu que o encontro com outras pipas seria iminente. Avistou uma grande pipa preta logo acima da sua, a qual em poucos instantes empreendeu um mergulho direto em sua pipa. Leandrinho nada podia fazer, pois sem o cortante na linha, era alvo fácil. Um friozinho tomou conta de sua barriga. Sentiu a linha da pipa adversária tocando em sua linha. Com os olhos vidrados no céu percebeu que sua linha fora instantaneamente cortada. Imediata e instintivamente, iniciou uma corrida frenética em busca de seu brinquedo valioso.
Com os olhos vidrados no céu, Leandrinho corria desesperadamente na esperança de reaver sua pipa. Sentia como se tivesse perdido parte de si. Nada ao seu redor importava, tampouco a grande quantidade de garotos que corriam ao seu lado, o que importava apenas era aquele brinquedo que caía livremente, ao movimento do vento, em algum lugar do horizonte. E lá foi Leandrinho, ignorando tudo. Não percebendo que adentrava a rodovia. Não percebendo que os demais garotos, ao se aproximarem da rodovia cessaram a caça pela pipa perdida. E lá foi Leandrinho, em busca do seu primeiro e legítimo brinquedo, uma pipa feita de bambu, cola, linha e seda. Materiais singelos mas que representavam inestimável valor em seu coraçãozinho de criança.
De repente todos que estavam próximo a rodovia ouviram o som estridente de rodas derrapando e um estrondo assustador. As demais crianças se aglomeraram as margens da estrada. Podiam ver um automóvel capotado e o trânsito parando subitamente ao longo da estrada. Ao chegarem mais perto, viram um corpo de criança estirado no asfalto. Era o corpo de Leandrinho. Todos puderam também perceber que ele segurava, em uma de suas mãos, sua tão querida pipa. Apesar da violência do impacto que custou a vida do menino, seu brinquedo parecia estar intacto, com sua enorme rabiola embaraçada.
Em busca de seu singelo brinquedo, o garoto não percebeu a morte se aproximando. Acabou correndo em direção ao seu destino. Um destino atroz, presente em todos os cantos de nosso país, em todas as localidades pobres que margeiam nossas estradas. Crianças empinam seus sonhos em suas pipas, brincam e imaginam seus mundos com os olhares voltados para o céu, alheios à vista da morte presente no estéril asfalto das estradas. Desta vez a morte carregou Leandrinho, mas poderiam ser Pedrinhos, Marcelos ou Paulinhos. Poderia ser um conhecido, um amigo ou um parente próximo. Uma realidade que custa a acabar no Brasil. Uma realidade que ceifa vidas de crianças inocentes. E Leandrinho estava morto, seu corpo estirado ao chão, mas em seu semblante, um leve sorriso de satisfação que apontava o prazer de recuperar seu brinquedo. E foi assim que ocorreu. Leandrinho abraçou sua pipa. E a morte abraçou Leandrinho.
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