Um estudo pioneiro realizado no Brasil e divulgado pela FioCruz indicou que o clima afeta significativamente a saúde de crianças menores de cinco anos, e que a vulnerabilidade varia de acordo com a faixa etária. Os resultados apontam que bebês no período neonatal (7 a 27 dias) são os mais afetados pelo frio, apresentando 364% mais risco de morte em condições extremas, enquanto os impactos do calor aumentam com a idade, atingindo 85% a mais entre crianças de 1 a 4 anos.
A pesquisa, conduzida por cientistas do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFBA, da London School e do Instituto de Saúde Global de Barcelona, analisou mais de 1 milhão de óbitos infantis ocorridos em 20 anos, cruzando dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Conjunto de Dados Meteorológicos Diários em Grade do Brasil (BR-DWGD). O estudo foi publicado no periódico Environmental Research.
Segundo o professor Ismael Silveira, líder da pesquisa, crianças são especialmente vulneráveis a mudanças de temperatura porque seus corpos ainda não desenvolveram plenamente mecanismos de regulação térmica. O calor extremo pode provocar insolação, desidratação, problemas renais e aumento de doenças respiratórias e infecciosas, enquanto o frio extremo eleva o risco de hipotermia, complicações respiratórias e metabólicas, além de infecções.
Os pesquisadores identificaram variações regionais: a Região Sul apresentou maior mortalidade infantil relacionada ao frio, com aumento de 117%, enquanto a Região Nordeste registrou maior impacto do calor, com risco 102% maior. Além das diferenças climáticas, fatores socioeconômicos, acesso à saúde e infraestrutura básica influenciam a vulnerabilidade.
Segundo Silveira, os achados oferecem subsídios importantes para políticas públicas, evidenciando a necessidade de ações de adaptação às mudanças climáticas para proteger crianças, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde a desigualdade social é mais pronunciada.
Apesar da taxa global de mortalidade infantil ter caído 61% desde 1990, e a mortalidade no Brasil ter diminuído em média 4,4% ao ano desde 2000, as mudanças climáticas representam uma ameaça à continuidade dessa redução.
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