Natal agora conta com mais uma forte aliada no combate às arboviroses com a implementação do Método Wolbachia, estratégia desenvolvida em parceria com o World Mosquito Program (WMP Brasil), Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que visa diminuir casos de dengue, Zika e chikungunya na capital. A biofábrica do município, localizada no bairro Felipe Camarão, foi inaugurada nesta quinta-feira (16), em um evento que marcou o início das liberações dos mosquitos com Wolbachia.
O Método Wolbachia consiste na liberação de insetos com a Wolbachia (um microrganismo presente em cerca de 50% dos insetos, mas que não estava presente no Aedes aegypti) para que eles se reproduzam com os Aedes aegypti locais. Quando os mosquitos com Wolbachia (chamados de Wolbitos) são liberados na natureza, eles se reproduzem com os mosquitos locais, fazendo com que este microrganismo se mantenha nas novas gerações de mosquitos, que irão nascer incapazes de desenvolver e transmitir os vírus de arboviroses.
O secretário municipal de saúde, Geraldo Pinho, explicou que a iniciativa é um investimento na saúde do município, que vai salvar vidas e trazer economia, auxiliando e evitando novos casos de doenças. “Esse é um momento histórico no município de Natal, em que vamos contar com mais essa tecnologia para auxiliar na redução significativa dos casos de dengue, Zika e chikungunya. Porque saúde não é a doença, também é a prevenção e cuidado, e essa é mais uma estratégia que se soma às ações contínuas de controle vetorial que a gestão vem desenvolvendo e vai contribuir para a diminuição de casos de arboviroses no município”, disse, reforçando o papel dos Agentes de Combate às Endemias (ACE) tanto na vigilância diária quanto em todo o trabalho de educação que eles desenvolveram na comunidade, apresentando e explicando sobre o método.
Para a gestora de implementação do Método Wolbachia no WMP-Fiocruz, Ana Carolina Rabelo, é importante que a população conheça e entenda a tecnologia, que vem para reforçar o combate às doenças. “Esse é um marco extremamente importante para nós e para a população de Natal, a chegada do Método Wolbachia vem para ter um impacto positivo na redução da transmissão das arboviroses. É importante enfatizar também que o método é natural, seguro e autossustentável, não há nenhum processo de modificação genética, então o método é totalmente seguro para a população”, explicou.
O Secretário de Estado da Saúde Pública (Sesap), Alexandre Motta, reforça que os resultados da implementação do método podem ser observados cerca de dois anos após o encerramento das solturas dos Wolbitos. "Esse método é algo benéfico, algo positivo para a cidade e para o estado como um todo, e que reforça o avanço da ciência no combate às doenças", disse.
Com cerca de 400 m², a biofábrica é o local onde os Wolbitos são produzidos e preparados para serem liberados em vários bairros da cidade. O local conta com estrutura equipada com salas de triagem, larvas, tubos, lavagem, estoque e refeitório, e reúne profissionais capacitados que irão realizar as etapas de produção, incluindo a eclosão dos ovos dos mosquitos com Wolbachia e a montagem dos tubos para liberação em campo.
As liberações dos Wolbitos em Natal devem acontecer ao longo de cerca de 20 semanas, em 33 bairros da capital, que contemplam os bairros de Alecrim, Areia Preta, Barro Vermelho, Bom Pastor, Candelária, Capim Macio, Cidade Alta, Cidade da Esperança, Dix-Sept Rosado, Felipe Camarão, Guarapes, Igapó, Lagoa Azul, Lagoa Nova, Lagoa Seca, Mãe Luíza, Nossa Senhora da Apresentação, Nossa Senhora de Nazaré, Neópolis, Nova Descoberta, Pajuçara, Pitimbu, Planalto, Ponta Negra, Potengi, Praia do Meio, Quintas, Redinha, Ribeira, Rocas, Salinas, Santos Reis e Tirol.
“Combater arboviroses não é uma coisa fácil, não é um problema só da saúde, é um problema que envolve diversos setores. Então, hoje começamos essa liberação, e esse trabalho de muitos anos de pesquisa, e vão ser várias semanas de liberação, de monitoramento e acompanhamento, e eu tenho certeza de que vamos ter um grande êxito aqui em Natal”, salientou Lívia Vinhal, coordenadora geral de vigilância de arboviroses do Ministério da Saúde.
O método surge como estratégia complementar às ações de vigilância e prevenção de arboviroses do município, como a vacinação contra a dengue para crianças com idade entre 10 e 14 anos; o trabalho de educação e saúde; o Levantamento Rápido de Índices para Aedes (LIRAa), método em que os Agentes de Combate às Endemias (ACE) vão às residências identificar o depósito foco de vetor predominante naquela região; e das ovitrampas, armadilhas que ajudam no monitoramento e controle dos mosquitos que podem causar arboviroses, tecnologia utilizada desde 2015 no município, que serve como referência de metodologia de monitoramento entomológico para o programa nacional de vigilância das arboviroses do Ministério da Saúde em todo o país.
O Método Wolbachia
O World Mosquito Program (WMP) é uma iniciativa internacional sem fins lucrativos que trabalha para proteger a comunidade global das doenças transmitidas por mosquitos. O primeiro local de atuação do WMP foi o norte da Austrália, em 2011. Atualmente, a organização atua em 15 países.
Presente no Brasil desde 2012, Niterói, no Rio de Janeiro, foi o primeiro município a ter o território totalmente coberto pelo Método. Como resultado, em 2024, registrou-se a redução de 89% no número de casos de dengue na cidade, em comparação com o período de 10 anos pré-intervenção (2007-2016).
Vale ressaltar que, em 2024, o país passou pela maior epidemia da doença já registrada, com 6,6 milhões de casos e 6.200 mortes. Niterói apresentou 374 casos por 100 mil habitantes, índice substancialmente inferior ao observado no estado do Rio de Janeiro (1.884 por 100 mil) e no Brasil como um todo (3.157 por 100 mil).