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| Projeto contabiliza hoje mais de 20 obras produzidas ou publicadas. Foto: TJRN |
O projeto Escritores e Escritoras do Cárcere, desenvolvido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN), é um dos finalistas do Prêmio Innovare 2025 na categoria Juiz. Criada em 2012, a iniciativa usa a escrita como ferramenta de ressocialização e já acompanhou a produção de mais de 20 obras literárias dentro do sistema prisional potiguar.
Coordenado pelo juiz Fábio Wellington Ataíde Alves e pela servidora Guiomar Veras, o projeto permite que cada texto produzido, em formatos como contos, crônicas, cartas e poesias, resulte na remição de quatro dias de pena. Além de incentivar a leitura e a produção literária, a ação busca reconstrução de identidade, reflexão crítica e fortalecimento emocional de pessoas privadas de liberdade.
Iniciado em 2012, idealizado como uma ação pioneira de incentivo à leitura e à produção literária entre pessoas privadas de liberdade, o projeto contabiliza hoje mais de 20 obras já acompanhadas, apoiadas e algumas publicadas, com a formação de autores reconhecidos nacionalmente, como: Newton Albuquerque – autor de “A Escolha Errada” e outros títulos; Amanda Karoline – autora de “De Tambaba à Prisão”, hoje membro da Academia Brasileira de Letras do Cárcere e escritora best-seller; Lucas Barbosa de Melo Júnior – autor de “Ainda há tempo”; Carlos Romeu, autor de “Poesia Livre”; Dalvanete Alves, autora de “Tomadas de Decisões”; Jefferson Andrielle, autor de Xeque-Mate – Uma batalha atrás das grades”, entre outros.
Guiomar Veras destaca que o impacto vai além da remição da pena: “A literatura resgata a esperança e reorganiza sentimentos em um ambiente de adversidades”.
Ex-detentos como Carlos Romeu e Pâmela Dutra relatam transformação pessoal a partir da escrita. Pâmela, hoje em liberdade, afirma que a literatura ajudou a estabilizar emoções após a vivência no sistema prisional e já trabalha em seu segundo livro.
O projeto também conta com apoiadores voluntários que fazem tutoria literária, acompanham textos e participam de círculos de leitura, reforçando a dimensão restaurativa da iniciativa.
Como funciona
Cada participante pode produzir até 12 textos por ano, com pelo menos 10 páginas. As obras são avaliadas por uma equipe interdisciplinar e submetidas ao juiz para validação da remição. A metodologia combina referenciais como escrevivência (Conceição Evaristo), Literatura Marginal, pedagogia libertadora (Paulo Freire) e círculos restaurativos.
Para Fábio Ataíde, o reconhecimento nacional reforça o pioneirismo do projeto, criado antes de iniciativas semelhantes no país: “É um trabalho vivo. Essas pessoas estão renascendo como autores e autoras”.
A cerimônia do Prêmio Innovare acontece nesta quarta-feira (3), no Supremo Tribunal Federal.
