Um olhar um pouco mais atento sobre a forma como nos portamos no trânsito deve levar em consideração a herança cultural que nos foi transmitida pelos modos usuais, seja na família, na escola. Alguém logo vai me questionar e afirmar que nada lhe foi transmitido, o pouco que sabe aprendeu na longa estrada da vida, como diz aquela música antiga.
Sim, é verdade, muitos de nós é integrante da primeira, ou talvez da segunda geração de condutores, o que em matéria de conhecimento, de experiência transmitida aos seus descendentes é muito pouco, é quase nada. E, mais que isso, quem ensinou nossos pais, nossos avós a dirigir? Os tempos eram outros, os veículos eram outros, as ruas eram outras, a vida era outra. Mas, o que será de nossos filhos, nossos netos? Onde estamos errando tanto?
Origem
Origem
Um resquício de nossos erros deve ter origem no período em que havia escravos, em que a violência era institucionalizada, era uma desumanidade brutal, uma hierarquia absurda, em que seres humanos eram um pouco mais que animais. Se olharmos com atenção e isenção de ânimo, vamos notar que hoje tratamos o pedestre como um ser inferior, um escravo melhorado quando estamos na direção de um possante veículo com direção hidráulica, transmissão automática, ar-condicionado, bancos de couro, GPS, Air Bag, ABS, etc, etc. A comparação é forte, reconheço, mas não é irreal. Temos sim um pé na senzala e, apesar de vivermos em uma sociedade moderna, evoluída, temos um ranço contra os mais fracos no trânsito. Quem de nós em sã consciência já não teve o ímpeto de dar umas boas chicotadas no coitado do ciclista desatento, quem nunca passou propositadamente em uma poça de água para molhar quem está na beira da estrada?
Prudência já!
Outro de nossos desacertos na vida acelerada das cidades diz respeito à falta de prudência, que, para muitos, virou sinônimo de covardia. O cuidadoso, o que dirige na velocidade regulamentada, virou careta, é objeto de chacota, de gozações. A primeira das regras de civilidade, aquela que diz que todos somos iguais no trânsito nos traz desconforto, e muitas vezes nos faz cometer desatinos. Esperar a nossa vez na fila da rodovia BR-101 sem passar pelo acostamento soa como uma heresia, que só os babacas obedecem. Nós, os espertos, furamos a fila.
Esperar o sinal abrir, dar preferência ao pedestre que esteja atravessando a via nos causa incômodo. E ele, o pedestre, por sua vez, muitas vezes abusado, outras vezes desinformado, e normalmente todos nós somos pedestres desatentos, insistimos em atravessar fora da faixa, mesmo que estejamos a 20, 30 metros, por pura preguiça. E quando debaixo do sinal não temos paciência e educação para esperar que abra.
Assim, fica difícil. Tenhamos consciência. Ética e prudência já, e sempre! Tratemos a todos com educação, sejamos prudentes e a vida será melhor para todos.
Sérgio de Bona Portão
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