Por Márcia Pontes.
Fatalidade: aquilo que é fatal. Um destino que não se pode evitar. Fatal: sinônimo de mortal, que remete à morte. Mas, também, aquilo que é marcado por um destino inevitável. Uma vez que os acidentes de trânsito em mais de 90% dos casos podem ser evitados, porque continuamos a nos referir a crimes de trânsito como fatalidade? Porque continuamos tratando aquilo que pode ser evitado como vontade de Deus, “chegou a hora dele” ou simplesmente como “acidente”, um evento fortuito que não se pode prever?
Será que o motorista que bebe, dirige, assume o risco de ferir e de matar não poderia prever a consequência de seus atos? Ou se acha um Deus, um Papael (personagem fictício do Sul do Brasil que se auto-rotula indefectível) de corpo fechado contra quem nada pode ou vai acontecer? Quem está brincando com o destino de quem em nome da heresia de que é vontade divina?
Quando alguém dispara o seu gatilho no trânsito sabem o que sobra além do sofrimento, da dor, da vida interrompida pelas mãos de um criminoso no trânsito? Sabem o que sobra além do vazio, da saudade e da morte em vida?
Se pudéssemos dizer o que sobra em forma de bilhetes deixados às vítimas de acidentes de trânsito, leríamos a saudade da mãe que escreveu: “Filho, deixei o seu prato no microondas. É só esquentar.”
Talvez lêssemos o bilhete da esposa que saiu antes do marido para trabalhar ou levar as crianças na escolinha e que dizia: “Amor, não esquece a festinha do Dia dos Pais. É às 15 horas.”
Ou quem sabe pudéssemos ler o email ou mensagem de um amigo distante que reapareceu: “Oi, lembra de mim! Sou o Jorge, seu melhor amigo de infância! Há quanto tempo, hein! Vamos marcar um chope hoje para lembrar dos velhos tempos?”
Quem sabe pudéssemos ler o bilhete do pessoal do escritório, dizendo: “Não esquece o futebol hoje à noite. Você é o titular do time!”
Quem sabe ainda pudéssemos ler o bilhete deixado pela filha ao pai em que dizia: “Paizinho, não se preocupe. Volto logo depois da aula na faculdade.”
Poderíamos ler qualquer coisa para alguém que saiu de casa e nunca mais voltou. Poderíamos ler palavras, olhares, gestos. Mas, destinos ainda não podemos ler. Isso a Deus pertence!
Quanta gente foi embora cedo demais antes mesmo de cruzar o portão de casa porque um motorista bêbado perdeu o controle do carro e o esmagou contra o muro ou portão!
Quantas pessoas não deram o próximo passo ao caminhar na rua porque alguém com a cuca cheia de bebida alcoólica, drogas, irresponsabilidade e desumanidade assumiu um volante e dirigia perigosamente por aí?
Avós com netinhos, mães com seus filhos, trabalhadores, crianças, mães empurrando o carrinho de bebê, trabalhadores indo ou vindo para um dia de lida… Não há distinção. A morte pediu carona, mas não levou quem consentiu que ela sentasse ao seu lado: ela leva sempre um ou mais inocentes e tem o incrível poder de provocar ouras mortes além daquela do corpo físico. Leva à morte a família, o bebê ou criança que vai crescer sem os pais.
Quando motoristas mordem qualquer tipo de isca que altera o seu comportamento, atitudes, práticas e o estado psicomotor o resultado sempre será a morte de alguém. Ainda que a morte em vida.
Fico pensando no que passa pela cabeça de quem tira a vida de alguém no trânsito e confesso que é uma pergunta tão enigmática quanto aquela: “De onde viemos?”, “Para onde vamos?”, ou até mesmo: “Existe vida após a morte?”
Será que essas pessoas morrem em vida também? Será que se arrependem de verdade? Será que a consciência e a culpa os deixam dormir? Será que conseguem olhar nos olhos do que morre em suas mãos? Será que por um minuto são capazes de se colocar no lugar do outro e de suas famílias?
Sempre ouvimos mais relatos de criminosos do trânsito que saem rindo de audiências em que respondem como réus por terem tirado a vida de alguém no trânsito do que de réus que olham nos olhos de quem ficou e pedem perdão. Será que tem?
O fato é que quem nos foi tirado à força jamais voltará e temos de aprender a lidar com isso todos os dias, cada minuto de nossas vidas mortas em vida.
O fato é que temos de aprender a conviver com a dor com a certeza de que não poderemos mais tocar quem amamos além da memória e da saudade. Essa é uma marca que carregamos e que temos de aprender a suportar.
Mas, o que não dá para suportar mesmo, de verdade, é ver a sociedade inteira repetindo por aí, como um papagaio de pirata ou calopsita que canta o hino do Brasil, que foi uma fatalidade.
Fatalidade é você caminhar na rua e um pombo acertar a sua cabeça. Beber e dirigir tem outro nome e o resultado disso não é acidente. Não é destino. Não é vontade de Deus. É crime!
E precisa ser exemplarmente punido para que outros não sejam esquecidos e continuem tendo a sua morte naturalizada por um discurso de que nada se podia prever e nada se poderia fazer.
Fatalidade: aquilo que é fatal. Um destino que não se pode evitar. Fatal: sinônimo de mortal, que remete à morte. Mas, também, aquilo que é marcado por um destino inevitável. Uma vez que os acidentes de trânsito em mais de 90% dos casos podem ser evitados, porque continuamos a nos referir a crimes de trânsito como fatalidade? Porque continuamos tratando aquilo que pode ser evitado como vontade de Deus, “chegou a hora dele” ou simplesmente como “acidente”, um evento fortuito que não se pode prever?
Será que o motorista que bebe, dirige, assume o risco de ferir e de matar não poderia prever a consequência de seus atos? Ou se acha um Deus, um Papael (personagem fictício do Sul do Brasil que se auto-rotula indefectível) de corpo fechado contra quem nada pode ou vai acontecer? Quem está brincando com o destino de quem em nome da heresia de que é vontade divina?
Quando alguém dispara o seu gatilho no trânsito sabem o que sobra além do sofrimento, da dor, da vida interrompida pelas mãos de um criminoso no trânsito? Sabem o que sobra além do vazio, da saudade e da morte em vida?
Se pudéssemos dizer o que sobra em forma de bilhetes deixados às vítimas de acidentes de trânsito, leríamos a saudade da mãe que escreveu: “Filho, deixei o seu prato no microondas. É só esquentar.”
Talvez lêssemos o bilhete da esposa que saiu antes do marido para trabalhar ou levar as crianças na escolinha e que dizia: “Amor, não esquece a festinha do Dia dos Pais. É às 15 horas.”
Ou quem sabe pudéssemos ler o email ou mensagem de um amigo distante que reapareceu: “Oi, lembra de mim! Sou o Jorge, seu melhor amigo de infância! Há quanto tempo, hein! Vamos marcar um chope hoje para lembrar dos velhos tempos?”
Quem sabe pudéssemos ler o bilhete do pessoal do escritório, dizendo: “Não esquece o futebol hoje à noite. Você é o titular do time!”
Quem sabe ainda pudéssemos ler o bilhete deixado pela filha ao pai em que dizia: “Paizinho, não se preocupe. Volto logo depois da aula na faculdade.”
Poderíamos ler qualquer coisa para alguém que saiu de casa e nunca mais voltou. Poderíamos ler palavras, olhares, gestos. Mas, destinos ainda não podemos ler. Isso a Deus pertence!
Quanta gente foi embora cedo demais antes mesmo de cruzar o portão de casa porque um motorista bêbado perdeu o controle do carro e o esmagou contra o muro ou portão!
Quantas pessoas não deram o próximo passo ao caminhar na rua porque alguém com a cuca cheia de bebida alcoólica, drogas, irresponsabilidade e desumanidade assumiu um volante e dirigia perigosamente por aí?
Avós com netinhos, mães com seus filhos, trabalhadores, crianças, mães empurrando o carrinho de bebê, trabalhadores indo ou vindo para um dia de lida… Não há distinção. A morte pediu carona, mas não levou quem consentiu que ela sentasse ao seu lado: ela leva sempre um ou mais inocentes e tem o incrível poder de provocar ouras mortes além daquela do corpo físico. Leva à morte a família, o bebê ou criança que vai crescer sem os pais.
Quando motoristas mordem qualquer tipo de isca que altera o seu comportamento, atitudes, práticas e o estado psicomotor o resultado sempre será a morte de alguém. Ainda que a morte em vida.
Fico pensando no que passa pela cabeça de quem tira a vida de alguém no trânsito e confesso que é uma pergunta tão enigmática quanto aquela: “De onde viemos?”, “Para onde vamos?”, ou até mesmo: “Existe vida após a morte?”
Será que essas pessoas morrem em vida também? Será que se arrependem de verdade? Será que a consciência e a culpa os deixam dormir? Será que conseguem olhar nos olhos do que morre em suas mãos? Será que por um minuto são capazes de se colocar no lugar do outro e de suas famílias?
Sempre ouvimos mais relatos de criminosos do trânsito que saem rindo de audiências em que respondem como réus por terem tirado a vida de alguém no trânsito do que de réus que olham nos olhos de quem ficou e pedem perdão. Será que tem?
O fato é que quem nos foi tirado à força jamais voltará e temos de aprender a lidar com isso todos os dias, cada minuto de nossas vidas mortas em vida.
O fato é que temos de aprender a conviver com a dor com a certeza de que não poderemos mais tocar quem amamos além da memória e da saudade. Essa é uma marca que carregamos e que temos de aprender a suportar.
Mas, o que não dá para suportar mesmo, de verdade, é ver a sociedade inteira repetindo por aí, como um papagaio de pirata ou calopsita que canta o hino do Brasil, que foi uma fatalidade.
Fatalidade é você caminhar na rua e um pombo acertar a sua cabeça. Beber e dirigir tem outro nome e o resultado disso não é acidente. Não é destino. Não é vontade de Deus. É crime!
E precisa ser exemplarmente punido para que outros não sejam esquecidos e continuem tendo a sua morte naturalizada por um discurso de que nada se podia prever e nada se poderia fazer.
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